sábado, 27 de dezembro de 2014

o que tem depois de amanhãs

O trabalho é só meu.
Mas eu adorava o conforto do amor do outro, adorava o reflexo.
Duas Marias, outras marias.
O de fora cantava, eu nunca cantei.
O de fora era jovem, eu sempre envelheci.
O de fora, poeta, olhos como os meus.
Eu não precisava me esforçar, tão bom olhar-se nos olhos do outro.
O reflexo era mais nítido e bonito que a imagem.
Eu pincelava meus traços, mas não precisava finalizar, era tão confortável ser no outro!








Voltar o caminho árido sem distração foi 2014.












2015 é a mesma pedra, mesmo sertão.
Essas flores, na casa, são memórias.
Desejo muito chegá-las, tocá-las, sentir-me.
No jardim, sem a mão do outro, minhas mãos não têm fim.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

de um cheiro, outro jeito de amar o passado


Apagaram.
No carro, gritando. Pedindo socorro ao vidro fechado.
Apagaram.

É de passar o dia. De se perder do tempo.
De lembrar. E de esquecer.
Sonhar com a volta. Sonhar que haverá
Sonhar, e depois fugir.

E antes de fugir, lembrar o cheiro doce da tua boca naquele dia.
Não precisávamos de palavras moles para a nossa tarde, mas não posso falar por você, e pela extrema elegância e carinho com que me tratou, me festejou, e acompanhou o meu movimento – ainda que pensasse em outras posições mais propícias para o encontro!
Não te dei o que querias. E por vezes nos perguntamos o porquê. Você a mim. Eu a mim. De você a você eu não sei. De mim a você, nunca faço.
(Apagaram).
Foi tão bom que eu não gosto de pensar que aquela tarde nos separou depois. Em mim ela juntou à tua beleza a minha admiração. E eu iria lá toda semana, até esgotar essa vontade. Mas tá, eu nunca disse isso, nunca soube te dizer.

- a paixão empobrece minha objetividade.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

.. aos pedaços



O tempo gesticula passagens enquanto durmo.
Acordo sem saber o destino.
Sei que entro no sono como numa sala de cuidados, e essa noite – como em outras – pedi para desfocar imagens.

(todo amor é um erro?!)
Ok, não penso em ‘erros’ como meteoros que devem ser desviados da Terra.
Mas que pegamos o parceiro pela mão e partimos errando o caminho, confiantes na descoberta de um mundonovo.
Abrimos ruas novas, passamos por estradas desconhecidas, aquele beco que eu pensei que nunca mais teria coragem de entrar.
Estamos de mãos dadas, há o outro em quem confiar e amar.
A invenção, anseio particular, vai se reconfigurando pela necessidade do outro, dependência do outro, me perco na finalidade do caminho.

Ao longo do tempo, ainda caminho, mas a minha mão perdeu dimensão, tão aninhada esteve na mão dele.
Estou nas reentrâncias do labirinto, me suprindo para conseguir – e querer – levantar e sair.

Há meses, quando vou dormir, peço um colo de mãe para mais uma noite deitada nesse chão rompido, meu chão, minha vida.
Peço que me alimentem de sonhos, que me conectem com os meus elementos, minha força.
Acordo com informações.
Umas anoto.
Umas esqueço, como se o vento da consciência carregasse antes do registro, mais rápido que o meu retorno.
E há as que não há como dizer, sinto pelo corpo, rumores, mudanças.
Não há como me apegar, não há rostos ou estorinha.
Só uma sensação de estar em mim, ter recebido na medida do que posso receber, aquilo que peço..

O resto é aqui fora, é comigo acordada, refazendo a trilha que o amor engoliu.

sábado, 13 de dezembro de 2014

tiros!

Quem faz o tempo é o malandro que mora em mim
Soube que mora em mim tudo o que eu desej-o-ava

São umas teclas que sinto na ponta dos dedos, quando visito suave qualquer uma de mim..
Aproximo-me pedindo o arrego da compreensão, do que me baste, do me acalante, do que me transforme.. tudo dentro

O gato espia a noite que demora e balança a rede
Ele brinca com os fios que escorrem, sobe na cama, espreita a dor com o toque de quem sabe da impermanência
Vou arranhando até que consiga depois da saudade, uma verdade que seja minha
Promessa verde, pode ser mentira também, pode ser surpresa
É assim qualquer coisa de mim que quero ouvir, sentir depois da roupa, depois do amor

Ouço tiros! Fogos me comunicam a felicidade de algum lugar distante, bonita imaginação
Leio como quero, a peça como quero, a poesia como quero, a melodia como quero

Mergulhei, amor e mar sem fim ainda.. fico lá (aqui), tenho fôlego
Quando achar, volto
Flores, chão riscado e pedra.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Ritual da Lua Cheia


(águas de Belém - PA)

O Ritual era de cura, transformação e aceitação.
Entrega, gratidão e devoção.
Saí de Salvador à tarde, mochila e rodoviária.
Chegando lá, fui acolhida logo na entrada por um Eucalipto. Ele está na terra e no ar, na lembrança e no agora. Ficou comigo até quando me preparei para deixar o chão.
Espiralando na natureza, não havia um propósito específico, segui um impulso. No meio do fogo, no tempo de transformar, pedi acolhimento (à Lua) e descanso para o amor (ao Fogo).
Depois veio a Água, em chuva, banho, reza.. aceitação.
O mundo mágico soprou no meu nariz as cantigas e os ritos de uma tribo do Acre. Voltei pro chão, pra Terra, me agarrei nela. Pude ver o céu enorme de estrelas com os olhos fechados. Tive medo. Respirei. Devolvi pra terra o que não era meu. Intencionei.
Dali pra Cabana, espaço de cura. Envolvida pelo Rapé, fui silêncio profundo. Não sabia cantar, bater palma, ou gritar. Uma única palavra soube dizer: compaixão.
Depois o rio, águas de Oxum. E as ervas saudando o corpo novo.
Cheguei atendendo a um chamado interno. Consegui parar de fugir da Lua, acolher em mim o seu poder, a sua força. Busco paz, solução que só eu posso me dar. Com os ancestrais na natureza, me reconecto.
Como Mulher Selvagem que me reconheço e sou, Sigo em frente!


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

não ando só


Sem mim, outras canções, inspirações, novos tremores
Sem você, viagens, feminismos, o tempo

Quem diria que o amor desidrata? Que o amor desnutre?!
Pois, nunca soube.. sempre tola o suficiente para sentir que o amor, por si, por palavras ou intenções, girava a roda do mundo!

- Ah, então não há de ser amor!
é!
Também fiz essa alegoria.. gráficos, tabelas, colunas, previsão de certezas falsas
Hoje sei, em mim.. é
Só que, contrariando mesmo o que vou viver escrevendo, não muda tudo

Sigo pra entender as contradições
Sigo também para revelá-las em outras histórias
Sigo por impulso, e gratidão
sigo

domingo, 30 de novembro de 2014

restam mais


Fiz um silêncio grande
E cubro de solidão móveis, rede, roupas, caminhos, cama, janela

Resgato do mundo todo algumas palavras para tentar uma veste que seja minha, que seja eu
Fui andando pelos mundos, cidades, desertos, o dentro, o mar, nas águas
Só as palavras podem o que eu não posso mais sentir..
E a arte, que ajuda a cerzir a alma

Passei de um ano pra outro, mudei os números, e me mudei
Estou-me
Regresso de um mergulho com imagens dos tempos.. uns que vivi, uns que sonhei, uns que quis tanto e não percebi que não aconteceriam a tempo

Não há busca, é mais uma passagem..
Viajo por um olhar, uma descoberta, um destino
Às vezes uma saudade, uma memória
Às vezes só pra sentir de outro modo, em outro lugar, o que sei que está em mim ainda

É também uma contagem, viver.

sábado, 29 de novembro de 2014

sobre



Quando a noite da rua finda pra mim, volto pra casa
volto pra você, nesse inconsciente louco do amor
volto pra você sem que você esteja aqui
volto pra casa, mas sem você
volto pra você e pra casa, sem você

busco pistas que não há
não há você
- são imaginários os recursos que me conduzem até a cama
auxílio do mundo mágico - trato-me de amor tardio
durmo em recuperação, acredito que luzes me recobrem como um lençol protetivo – amanhã recomeço
acredito que minha mãe me protege quando durmo






pra mim, as coisas fantásticas são as mais possíveis

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

o que há de sempre (para Monique)

(Rejane Ayres fotografa)

Pode ser que eu sempre lembre
Já pode, agora.
Pode ser que todos os dias, em algum momento, por algum motivo, sem motivo ‘aparente’, eu lembre.

Pode ser que nunca passe
Já pode, agora.
Que nunca seja indiferente, ou nunca deixe de me emocionar

Se foi parte da minha história, é e vai continuar sendo
Não preciso mais relutar, aos poucos um jeito e um lugar amanhecem

Guardar amor para viver amor
Viver amor para honrar a vida e o amor guardado

terça-feira, 25 de novembro de 2014

véspera já é o dia, num tempo sem ponteiro

Soubesse desenhar, fazia auto retrato
para as pequenas sutilezas que se mudam em mim, e só às vezes reparo.

Hoje voltando já de noite pra casa, uma delas.
Como um balanço, mudei de lugar. Ou de espaço no coração.
Perceber o mínimo que posso estar me modificando, uma pequena porção de mim saindo do lugar, da falta para o pertencimento.
Um arredar de passo, um afastar miúdo na cadeira de balanço.

Só desenhando pra mostrar.

sábado, 22 de novembro de 2014

folhas de sagitário



do sábado, o sol à tranquilidade

tempo ameno, o que chamam de idade, ou vento leve nos galhos e folhas verdes da árvore

dançando

se no peito ainda doi, acolha-se.. e alegra-se, porque peito que doi é peito vivo!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

nas ondas .................. entre o porto da barra e a casa de iemanjá, no rio vermelho


Meu corpo tem cicatrizes bonitas,
sequelas importantes,
do tempo do amor.

Costuras de poesia na pele, como os bordados que tento aprender.
Os fios coloridos, linhas que escolhi, como os filetes de sangue passeando nas minhas veias,
oxigenando-me,
enquanto respiro e sopro para fora o que não me pertence.

É lindo, mas não é meu.

Fiquei gravada pelo tempo, e, depurando os modelos, posso olhar para a alegria,
a vitalidade,
a vontade pulsante,
essas coisas geniais que me encontram quando sinto.. amor.

A melhor transgressão!
Vincular o corpo ao sentimento,
alma voltando pra casa.

Andarilho do meu profundo,
em mergulho éramos abraço,
aos tragos fomos conhecimento,
movimento de esgotar, saciar, e querer, querer.. amor.

Tenho a mim e ele marcado com os dias em que não houve mapa, calendário, roteiro.
Achei recentemente as fotos internas, me reconciliei com as marcas.
Fico feliz por não ser a mesma, sempre a mesma.
O amor me faz bem

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

filme da semana

Bobagem querer falar, se não temos mais palavras.
Se não temos mais palavras.
Não temos mais amor.
De mais, nada; nem ouvir, nem saber, nem querer.

As coisas são deixadas.
E também não há fim.
Não há volta
foram deixadas, assim.

Te perdi para ti.
Com muito silêncio, o tempo se desfez.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

para o filho


Hoje foi um dia surpreendente, como foi a surpresa da sua chegada, seu nascimento, sua existência corporal nesse mundo, como meu filho.

Hoje estivemos juntos a maior parte do dia, partilhando os sorrisos, as ideias, verbalizando os sentimentos, as opiniões. Estivemos juntos em abraços também, nos presentes que fui lembrando e te entregando, todos tão pensados em você. E nos beijos, e penteando os cabelos, ouvindo música, e sonhando..

A casa se avarandou – por dentro e por fora – de luzes coloridas. Recebeu jovens portão a portão, chegada a chegada. Você me disse que queria receber a todos, um por um, abrir a porta para cada um que chegasse. Acho isso um reconhecimento lindo, a importância que tem cada pessoa que você convidou para estar com você na sua casa, no dia do seu aniversário.

Fiz – como já é tradição – um café da manhã especial pra você. Guloseimas, carinho, toques especiais, devoção, velinha acesa, levei a bandeja até o quarto. Depois lembrei e peguei uma sacola com alguns presentes. Depois lembrei e desci pra pegar a medalha do Opáxoró de Oxalá. E assim fui lembrando, e trazendo.. até que chegaram as revistinhas.. Aqui outra conexão se fez nesse dia tão especial. Lemos juntos algumas estórias. Na primeira, o Cebolinha conclui com a sua mãe que a gente faz festa de aniversário por GRATIDÃO aos amigos pela existência deles.. Eu nunca tinha pensado nisso, e é tão verdadeiro pra mim. É lindo entender que o dia mais bonito do nosso ano deve ser pensado para receber e agradar aos amigos, pessoas tão importantes para a nossa manutenção no mundo!

E assim o Vini recebeu os seus aqui em casa, ao menos parte deles. E no mesmo tão importante dia, abriu o ano vivenciando sua autonomia, reivindicando seu espaço, sua vontade, seu jeito de ser ao mundo. Como eu digo, ‘fazendo do seu jeito’! Escolheu o cardápio, as músicas, o filme, a comida, a bebida, as pessoas.. Aprendeu que nem tudo sai como no roteiro, e isso é coisa boa de se aprender.


Foi dormir bem cansado e já tarde. Só amanhã é que vou – tentar – saber que aprendizados teve, se se divertiu, como reflete o dia na sua vida. Já na minha, fico por aqui pensando, matutando, aproveitando o silêncio da madrugada: as luzinhas piscantes que enfeitaram e iluminaram coloridamente nosso casa são como todos os sentimentos que tenho hoje por esse menino, suas construções e execuções, seu mundo interno, o nosso encontro. Sou toda luz e cor por ele, é lindo vê-lo crescer, é forte ser mãe dele, é mágico todo o mistério que somente vislumbro, e que talvez seja só pra ser assim mesmo.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

na calada conversadeira da tarde de quarta


Preciso escrever

Recomendação de busca, de amparo, proteção, como voltar pra casa de jardim e rede.

Como também preciso viajar (sagitariana!), decidi que iria a São Paulo tomar um café amoroso com a Talula e na volta me comprometeria a escrever tous le jours, n’emporte quoi (dúvidas quanto à grafia, não ao sentido, rs)!

No dia 26 de novembro (ô dia lindo!) de 2014 faço 46 anos. Desde - acho - que fiz 40, ou melhor, às vésperas de.., entrei numas que ia morrer. Era um tal de sentir coisas, físicas mesmo, palpitações, tonturas, era um tal de sentir medo.. Levei a constatação da minha morte iminente pra terapia, e lá, naquela sala sagrada de mim, entendi que a ‘certeza’ tinha conexão rápida com o passar do tempo, com a forma como eu me via e me sabia envelhecendo. Fiz 40 e meus amigos sabem que não morri! No sentido clássico. Porque de morte e vida nos fazemos diariamente, entre o amanhecer da esperança e a chegada da nuvem noturna, o esquecimento do sol até o dia seguinte.. e, para os que amam a noite em progressão, a rotação contrária, mesma vontade..

Atualmente somatizo diferente, rs.. eu sonho. Desde que entrei no terreno frutífero do meu ‘inferno astral’ que todos nos meus sonhos adoecem e/ou morrem. É pai, é mãe, sou eu. Do primeiro acordei assustada, mas tão rápido assim, talvez porque esteja mais conectada com a minha essência, percebi que era o tempo de pensar no envelhecimento, no tanto de tempo que eu estava nesse mundo.

Por aí descambei em outros pensamentos, olhando para os símbolos, e para o meu corpo de mulher. As desproporções que ele apresenta, o choque dos números, minha idade, o desconhecimento que sinto ao ser chamada de ‘senhora’, a barriga que nunca mais voltou ajustadinha pro lugar desde que conheci duas delícias da vida: a maternidade e a cerveja (ambas em plurais)!

Vez e outra sacudo da mochila vermelha minhas constatações da mulher que sou: enchi o saco de me depilar (nunca gostei mesmo de arrancar pelos), não vou a salão de ‘beleza’ fazer as unhas (não consigo mais pagar pra entrar em ambiente hostil), as maquiagens estão meio vencidas, as joias são de pano, as bolsas são mochilas, os sapatos não têm saltos.
Acho que a minha vaidade tem como alicerce a minha esquisitice no mundo. Acho que minha auto estima tem mais tesão pela minha letra poética que pela minha bunda.

Aos 44, tatuei ‘velha e louca’ na perna e me dei de presente uma cadeira de balanço, pra envelhecer sorrindo – eu dizia. Aos 45, a mesma palavra ‘velha’ me deixou meio fora do ar e da alegria. Não foram as palavras que me assustaram, mas o sentimento voraz de destruição que elas continham na pronúncia. Ainda me trato.. mas sei que homeopatia e amor ajustam muitos sentimentos dentro de mim.

Pois bem que hoje me preparo mais um pouco, um ano mais, para desaprender as convenções, as trapaças sociais e os corredores dos shoppings. Cada dia mais insubordinada quanto aos trejeitos sugestivos do ‘domínio público’, sigo pelas ruas do Rio Vermelho, acompanhando meu filho crescer, o filho da Dri crescer, minha filha chegar de viagem, meu mundo se aproximar do meu interno.

Quero a sorte de um amor tranquilo. O tempo está depois.





sexta-feira, 31 de outubro de 2014

do que sabem as palavras?

eu conhecia algumas palavras.
você me mostrou o inverso delas.
dupliquei meu paladar, gostando do teu sabor, além do meu.

e doutras fizemos nossas.
que, se existiam antes, nunca reparei.
assim como objetos, lugares.. e sentidos.
o mar, que não era aquele antes do banho em que v. me abraçou.
o beijo, que não era aquilo antes do nosso amor.
as camas, que nos espalharam pelos bairros.

eu mesma,
umas a mais dentro de mim,
entre minhas pernas,
entre as tuas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

26



quero um dia bom, que seja o ano da alegria de corpo inteiro, que seja festa de coração, sabores que gostamos no prato e fazemos para @s amig@s. Quero dia inteiro - 26 - dia que quem é sabe! No tempo que não precisa amanhecer nem acordar, que não tem noite, não tem hora, num lugar que é perto de mim, mas me deixando ser como sinto que só assim sei.
sei de uma beleza que vejo em ti, e as pessoas espelham a minha alegria repetindo assim: tá bonita! Nessas vozes, nessas horas, parece que Oxum sorri, dourada, e flecha meu sagitário.. sou boba de mulheres banhando em água tão doce como sorvo que seja o amor

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

parecida

Era uma noite que presumia-se confusa.
Após um dia de informações confusas.
Eu havia atravessado a rua com o amor romântico,
para do outro lado da calçada perceber que eu não queria mais aquela travessia.
Depois atropelei ao acaso uma história,
para não querer chegar em outra.
Sentei-me no sofá e conversamos.
Dei uma dica. Recebi um convite.
Rejeitei e aceitei.
Fui para o corpo, mas não dispenso as palavras.
Levei daquelas pedradas que palavras soltas conseguem dar(-me)
Fiz silêncio.
E chegou a noite me oferecendo o poder para decidir.
Abri um vinho. Merlot, francês
Tomei a 1ª taça. Imaginei sabores.
Virei a noite para o meu lado.

Largo o amor romântico.
As paredes sempre escreverão sobre mim

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Memória fugindo de casa!
Não arruma sacola, não quer levar nada. Quer deixar.
Passado no passado, e Corpo não é passado.
Corpo é de hoje, diz Memória
Corpo não é pra guardar cheiro, toque nem pertences do que não é
Corpo é agora!

Memória, pra ajudar Corpo, jogou forte pela janela no elemento que alcançou à fúria.
Fogo nunca me negou amparo.

Os espaços vazios são espaços vazios.
Não carece de empilhar tralhas nem pessoas.
Espaços vazios arejam o movimento, ampliam a visão do desejo.
E mais a mais, o terreno germina no invisível.
Algo plantado já está!

Pra Memória,
Pro Corpo,
Registre-se: coração

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

poema de fim


às quartas eu visto vermelho
às quartas se ama
às quartas se derrama
às quartas se vai ao cinema
às quartas se perambula pelas ruas do centro da cidade
às quartas se toma café
às quartas se passeia pela Barra
às quartas se sonha
às quartas se foge do que eram as quartas
às quartas se dorme fora de casa
às quartas se devolve ao mundo todo o amor
às quartas se acham-se em outras camas
às quartas se apaixonam-se
às quartas se lava a roupa, lava a alma, lava a vida

as quartas não têm passado
as quartas não têm futuro

às quartas, tão sem rumo
sem paradeiro
sem saber porque outro e não eu - mesmo que em algum lugar eu saiba
os gritos que gememos dentro do corpo vazio
precisam nos ensinar outro caminho, tão bom e bonito como os de quarta

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

"Assinado Eu" (Tiê)


na sexta estava no trabalho, fones no ouvido, escuto-me cantando..
digo, não eu, mas o que eu estava pensando, o que eu queria dizer, cantar, escrever, falar
uma poesia que pede perdão

hoje é segunda e eu passei os festejos primaveris do Rio Vermelho cantando assim..
parece que demoro no mesmo lugar, não parece, demoro mesmo..
por isso advogo vida longa, porque meus 'processos' são longos e demorados, e ainda há muitos por viver
ainda quero me apaixonar às vezes
deixar a "fortaleza" cantarolando
escrever poesia de novo
bordar lencinhos
pintar sem saber
ser espontaneamente ridícula e solidária aos ridículos que não vivem sem amar

tá no "repeat"
mas um dia passa!


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

uns tantos


Um - silêncio parcial que me conto em segredo
No dois, finco na Fortaleza, até me fortalecer e não precisar mais

Minha amiga fala que eu estou aprendendo
E eu choro, pra aprender, por aprender
Que não falta nada
Nem excede
Que o amor seguirá aromatizando os espaços
Ventilando as cortinas,
mesmo que ainda não seja de outrx

A solidão que me jogaram tal pedra
Não doi quando chega em mim
E quando mergulhei naquelas tantas águas frias e doces
- ana -
Era em mim que eu afundava
Enxergava coisas do dentro,
Objetos, sonhos, ideias

Fiz um poema só de intenções
Nenhuma palavra coube

Estar em paz é: sinto muito, me perdoa, te amo, sou grata
Aprendo com as minhas meninas

(foto da ana lucena)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

d'água


Há dia, momento, piscar,
que a água dentro da gente se acalma.
Com todo o cuidado e o zelo
que há de se ter com a alma e o coração,
com as águas salgadas e doces,
com a lama e o princípio,
acontece um tempo que podemos descansar um pouco à beira.


sábado, 6 de setembro de 2014

memória do fogo


Por acreditar na capacidade que tens de amar
e na capacidade que o amor tem de ser,
que perdoo.
Em mim, perdoar não vem sem contexto.
Não é ato natural de coração bom. Perdoar é pra seguir em paz.

Chega às vezes a ser inacreditável certos rumos,
quantos estreitos escuros me aparecem sem que eu saiba correr pra longe.
Ou porque não posso,
negar-me alguns lugares impede conhecer a força da minha natureza.

Sei que o amor pode degenerar nele mesmo,
feroz em raiva,
voraz em vingança,
morto de desespero,
uivando de dor.

Há vários.
Sinto saudade do que era doce, talvez porque prefira os sabores de sal (saudade do que eu não sabia ser)
Saudade da poesia, porque acho que é o melhor jeito de dizer as palavras.

Pela vontade de seguir e amar, banhos e oferendas.
Reconstrução da minha chama.
Pode ser labareda ou lamento.
Vai queimando, destruindo, lacerando a carne.
Depois - num tempo longe de contagem - recomeça.
Estou aqui

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

borda-do



Na casa vazia
Tudo acontecia
Eu bordava
Você sorria

sábado, 30 de agosto de 2014

balanço


Um adeus ainda balança os punhos da minha rede.
Punhos quebrados da violência que é romper.
Não, não disseram adeus.

Tanto imaginamos quem desamaria primeiro,
quem partiria,
como diria,
quem ficaria,
como sobreviveria.

Acho que não contavam com essa alternativa.
Separamos amando: carne, coração, pegada, picada, as palavras todas, ora confusas, ora caladas, desatino de amor pra todo lado.
Todas as paredes e todo o chão e todo o ar e todas as cortinas manchadas de amor.
Tive que sair lavando uma por uma, com lágrima e despedida fui limpando, dobrando, guardando..
todos os vermelhos precisando desbotar e resistindo.

Outro tanto de coragem foi pra esquecer aquela felicidade.
Só os dois já eram uma festa, uma alegria.
Encontravam-se os corpos na folia do desejo.
Sabiam dançar, tomar banho de mar, viajar, beijar, fazer café.
Fiz e faço fogueira, e até hoje queimo tudo que foi felicidade do nosso amor.

Um dia sonhei que a minha vida, meus sentimentos, eram um livro.
E eu ia até ela/ele e passava a página.
Era a página onde estava você comigo.
Depois que eu virava, tudo passava.
Se fosse assim, diria que às vezes bate um vento forte, de direção errante, que transpassa o santuário onde está o livro-vida, e aleatoriamente, mexe nas páginas, bagunça até encontrar nós dois juntos de novo, nessa história.
Páginas antigas, páginas passadas, pois nunca mais serão escritas assim.

Nenhuma delas deixou de amar, quando se separaram.
Afogamos no vômito do amor abusivo. Sufocamos em corda forte que amor sabe trançar.
O adeus que balança meu corpo nunca aconteceu, não souberam se separar com a graça simples que tiveram ao se conhecer.
Não há corpo para enterrar.
O amor em mim ainda geme as correntes.
Quero tanto que passe como quis que acontecesse. Preciso e quero seguir. Passar e não procurar com o olhar. Virar a página, escrever outros poemas e desenhar outras gravuras.

Amanhã, tentodenovo. Saio em busca de outras pistas, acredito que meu sorriso borda flores diferentes a cada nova ideia. Amanhã acordo e recomeço. Não desarmo a rede, não desisto dela, outros ventos chegarão para fazê-la em outro balanço, nasce paixão.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

você lê os meus poemas?


Construirei cápsulas de proteção que me amparem das quartas-feiras.
Serão vermelhas e rodadas, como as vestes de Iansã, minha mulher-orixá-guardiã.
E lá toda memória sofrida e pulsante-ainda vira breve esquecimento.
Minha 'brilho eterno de uma mente sem lembranças' temporária,
age às 4ªs e, passado o inventivo libertário dia, evapora-se.
Volta nas nuvens da semana seguinte,
chovendo proteção novamente sobre meus ombros, cabeça, órgãos e respiração.

Até que quarta-feira não precise mais lembrar.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

o amor e outros filmes


o tempo acerta o tempo
enquanto a chuva dessa manhã lava os ponteiros
o que não fui acumula-se em mim
em sonho
em conselhos

tudo pode ser mudado
o cenário tem a cor, a nudez e a luminosidade que damos
a vida da gente vai mudando a vida das outras pessoas
que vão mudando a vida da gente
A mistura - permito-me

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Eparrei Oyá!


Resignificar os espaços, os cantos de prazer na cidade.
Me levo a passeio.

Minha entrada no mundo foi pelo Ceará, Fortaleza.
Mas Salvador me deu a estadia. O ritmo, o movimento.
Em Fortaleza, Russas, Quixadá, Quixeramobim, as fotos da infância, que logo serão reveladas;
em Salvador, reflexões, filhos sangrados de amor, família escolhida de amigos.
Fortaleza me pariu. Salvador me empodera.

Fui ao cinema, exposição, rua, calçada, eixo. Uma partilha íntima com meu corpo ativo e outros espaços coletivos, percebo minha amplitude através dos limites do mundo.
Cada ideia nova que surge! Cada inspiração passageira de sorriso!

Essa semana resmunguei do maldito mundo que se repete - espirais me estrangulam
Hoje repito os passos, repiso, da forma mais legítima para reconhecer-me: sozinha!
Experiências que me preparam, me paramentam.
A Bianca avisa do barco voltando ao porto.
Na flutuação de quarta-feira, só aporta amor


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

nuances


O que tinha cores fortes e traços firmes, que pintava telas enormes do tamanho do meu corpo e do meu quarto, e assinava saudade no rodapé, hoje aquarela imagens pouco nítidas, tons pasteis, presença perdida que expõe em sonhos o que não sente mais.

Sim, ainda eu. Ou em mim, a forma como esqueço, o meu jeito de rearrumar os móveis e o que sinto.

No final da temporada, marco exposição. Será uma festa, um tumulto de alegria, comemorar meus pés fincados no presente, soltar os cabelos para adiante do mundo.

Estarei viva, não há mais notícias no jornal que nos interessem mutuamente. Em mim descansará minha mãe o amor.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

sim


Eu nunca, nesse tão pouco tempo, que nem tão pouco era, entendi o que dizia
Lia e achava tão bonito como ainda acho, que nem pensava em entender
E um dia eu pensava que ia perguntar, que ia ‘saber’
Mas não deu vez, vagava o tempo no amor, era tão melhor que nunca me arrependi

As palavras não são as mesmas ditas por outras
Eu não falo o que tu falas que não falas o que eu falo
Escrever também é assim
Vou decodificando-me nas escolhas e nos perdidos, vou amando-me nos achados
E quando escrevo, estou-me dizendo do jeito maluco que mais me consigo
Sou traduzível em palavras
Pudesse, não amaria gente, só palavra de gente
Não sofreria gente,
Não viveria gente
Prefiro palavra

Não há Um Dia para tudo que eu deveria falar, e ouvir
Não há Um Dia para esquecer
E nem Outro Dia para amar
Deixar ir é abençoar viver
Amor e Gratidão

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

desfazer


As pessoas demoram a passar
Porque não é o mesmo tempo
Não se comportam nos segundos, nem nos dias
Há um mundo, tô lendo num livro*, em que “o próprio tempo não existe”.
Nunca houve mundo em que eu morasse mais do que esse, agora.

Comigo é com quem mais converso, explicando o que vou aos bem poucos entendendo
Pode ser que com a travessia da rua, uma chuva começando, já tenha descompreendido e voltado pro lugar de antes, antes do escorrego
Fixo o esquecimento enquanto lembro

Em casa, converso com as paredes.
Não há solidão, há tantas paredes, e tantos assuntos lá..
Ontem elas só me queriam falar do amor
apaguei a luz
E quem passou pelo meu mundo naquele instantes ouviu minha voz alheia a explicações,
repleta de mim,
“o tempo está depois”
(El tiempo está después - Perota Chingo)


* o livro: Hado – Mensagens Ocultas na Água, Masaru Emoto

quinta-feira, 31 de julho de 2014

quinta-me


Durmo bem, acordo cedo.
Nos próximos 10 minutos decido se cochilo mais um pouco o preparo um café.
Às vezes sim, às vezes não.

Sigo na ladeira do bom dia e canto recomeços. Desde janeiro estou sempre recomeçando.

Vou pro trabalho e meu período mais criativo do dia é enclausurado numa sala de ar condicionado e paletós.
Clausura e criação não combinam em mim. Às 10h estou finalizada e tenho a sensação, quando fujo para o banheiro quentinho, que o dia já acabou. E morreu de inanição.

Mando mensagens tentando voltar à vida.
Respiro e expiro gemidos fortes Pulo no banheiro Mastigo as carnes do meu braço Meu coração vazando em fuga

Volto. Recebo mensagens solidárias.
Prefiro amor. Não há preferências no serviço público, trabalho uniforme, assim se pretende a burocracia.

Penso na água. Na libertação pela água. Na energia que se transmite pela água e anoto no guardanapo abaixo do copo:
AMOR E GRATIDÃO

Penso e sinto que sou realmente grata. E o Amor, desse eu já sabia.

Tem chuva lá fora e chuva sempre me traz no coração a velha Nanã. Recebo-a. Sou grata.
Tenho pendências de todas as qualidades e quantidades inverossímeis pra quem me vê no mundo e não conhece o espelho que carrego na alma.

Cheguei em casa. Omiti alguns fatos. Chatos. Mais chatos.
Até que enfim tomo um banho nessa noite fria. Pensei em beber até me esquecer.
Mas marquei de conhecer uma aula nova. Que talvez me reconecte, e eu preciso demais me reconectar mais.

Não é diário, mas tem dias que coça tanto essa cicatrização que mordo os braços pros dedos não arrancarem a casca e começar tudo de novo, do momento em que o sangue diz o quanto dói estar exposta ao amor.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

para o tempo, desaprender.


Passa o tempo e eu reparo, quando paro, o quanto ainda tenho que desaprender.

Passo um tempo deitada no barco, à deriva, olhos fechados, sem querer o horizonte.
Vivendo como se não quisesse.
Resistindo na inércia.

Rearrumo sentimentos e uns há que ainda não encontrei caixinha adequada para deixá-los.
Estão dependurados, entre o coração e a memória.
Meu varal de amor roto.

Visito as verdades e enquanto subo a ladeira, reparo nas variedades, muitas delas são equívocos de interpretação, esqueço.
Noutro dia já estou descendo, e aí são as mentiras que me dão volta. Como são doces as mentiras que amamos.

Ontem descobri que há tempos a poesia corre solta lá em casa.
As paredes conversam em soneto; as portas, em melodia.
Na cozinha, magia e encantamento de quem tempera e prova a vida por prazer.
Nos quartos dormem os sonhos, transam os corpos, palavras na pele, no azulejo
e no chão, a dança.

O jardim é contente de passarinho e borboleta.
De verde, vermelho, azul.
De pitanga, jabuticaba, pimenta, cidreira.






Tem rede pra balançar sorriso e o choro que vem das dores.
Embalamos com carinho o que precisa ser vivido, nas modalidades olho no olho, abraço e papo reto.
Aceitamos outras interpretações, mas precisa ter coração no cartão de visitas.

Muito a desaprender.
Pra um dia ser leve, não mais ferir-me o que pensa e fala fora de mim.
Continuar amando quem for do meu desejo amar, e deitar ao tempo com naturalidade o que não é mais.

Naquele dia, não era o mundo que esquecia de mim, era a tristeza que não deixava de lembrar.
Hoje, deito no mesmo lugar e posso observar os múltiplos alheios.
Sentir me deixa apta para viver.
E quanto mais vivo, mais percebo o quanto mais há para
desaprender.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Foi um dia assim a partida. Pensei ter visto alguém morrer.


Da minha pele, às vezes sinto o amor se desprendendo.
Diferente dos dias que parece aquela poeira grudada por maresia e suor.

Da janela do quarto, calendário. Não tem números riscados, nem me conta o tempo com a pressa do trânsito.
Da beirada, do parapeito, da balaustrada, vivo no silêncio.
Até que seja, até quando a vontade de ouvir alguém sonhar voe até aqui.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

quando alguém deixa de existir

Tentei me convencer a apagar as pistas, as memórias palpáveis.
Rasgar os papeis, queimar fotografias, quebrar poemas.
Destruir objetos que não negassem o parentesco, a parceria desfeita.

Mas em mim brincam no mesmo jardim a lembrança, a saudade..
Teria que reinventar-me por outras trilhas
Pedras caem, mas pedras novas surgem pisando o caminho, mesmo que a esmo
Outros planos para o fogo de Sagitário


terça-feira, 27 de maio de 2014

Passei muito tempo brincando de sábado na quarta-feira. Até meu aniversário, que caía numa terça, fiz virar sábado quando virou quarta!
Era uma ciranda no meio da semana, era o amor escancarado nas ruas escondidas.
Fiquei não dizendo por meses, madruguei beijos e passos no tempo virado festa.
Sem café da manhã, com chuva, com suco de laranja, sem roupa, com cinema, sem vergonha, com prazer, sem paradeiro.

Hoje, pra esquecer a ventania e as cores, durmo mais, me abandono no meio do chá, perco a passagem do mundo. Passa, passa. O sábado agora é só um sábado, o vestido vermelho de quarta-feira eu não uso mais.

domingo, 25 de maio de 2014

desespelho

Corpo fragmentado.

Como um espelho quebrado, sou ele.

E vejo imagens distorcidas, de mim e do mundo, das outras pessoas que amo e não

Não sei quem amo.

Às vezes se multiplicam os meus temores, às vezes não consigo entender

E sofro com as palavras que digo, com as ofensas que escrevo e mentem as minhas verdades

Sou tantos. Sou todos.

Me perdoe e me odeie, pois assim eu sou. Mas me ame também, seja como eu sou um pouco

O espelho trincado rasga as minhas ideias, os meus conceitos, os meus sentimentos. Rasga a minha alma, em sonhos estou no precipício do medo, do ciúme, da inveja, da solidão

Sou sombras e sou luz! Tudo muito rápido e avalanche, tumulto e sofreguidão, desespero.

Noutras vezes, sorrisos e paz, pois também há, aos pedaços, o alívio, o descanso. A poesia quando enxergo os olhos do meu amor.

Não consigo fechar os olhos e esquecer. Caio mas não morro na queda. Vivo no pulo daquele precipício. Mas vivo também na arte, sou um artista!

Choro mas você não sabe. Amo mas você não sabe. Sofro mas você não sabe. Vivo mas você não sabe.

Eu queria que tivéssemos mais tempo


quarta-feira, 21 de maio de 2014



Perde-se amor enquanto se espera o ônibus.
Perde-se amor vendo tv - mesmo que seja o documentário do Tom.
Perde-se amor tomando cerveja.
Perde-se amor nos ares do 2 de Julho.
Perde-se amor no banho - qualquer que seja a intenção das águas.
Perde-se amor dormindo.
Perde-se amor chorando. Perde-se amor sorrindo.

Perde-se amor indo ao espetáculo de música - tanto são os espetáculos ali.
Perde-se amor ouvindo música.
Perde-se amor não ouvindo música.
Perde-se amor indo ao cinema.
Perde-se amor viajando de avião.

Perde-se amor fazendo poema.
Perde-se amor, quebrado, no chão.

domingo, 18 de maio de 2014

Sinto, não é mentira, porque não podem saber?
Não me importa se não querem, eu preciso
Cada música, cada sonho, cada poema.
Faço faxina todo fim de semana, não saio. Quero arejar e perfumar, pra que novos ventos me contem novidades
Não estou pagando, estou vivendo, não cobro nem devo moeda pra esse tempo que também é de chuva.
Não sei porque não posso mais sonhar contigo, mas sigo o programa



Porque ninguém não nos arranca nem nos estanca
os sabores?

sexta-feira, 16 de maio de 2014

o aniversário da nossa solidão (violeta parra)

do tempo que não sabíamos, hoje fui
até o dia que não estaremos mais, cada qual no seu tempo
o de morrer
o de estar aqui

do tempo era tudo um espanto,
espantosamente amor
que sempre se viu no mundo, sempre se engoliu,
e no entanto, em nós, era outro
o nosso

o nome dessa ventania que nos arrastou - pra que dizer?
eu não sei
deveria haver proteção para furto e roubo do amor
deveria haver proteção para o medo de perder assim

releio cartas eletrônicas
volto a dormir
vejo o filme a linda violeta que preparou seu velório
volto a pensar em ti

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Fui pra rua. Reação
Os bares, as cores, as cervejas, as pessoas.
Abraços, palavras, sorrisos, olhares.
De repente, no ar da noite, na brisa do dia... a lembrança
Lembra?!
Finco o pés no chão, a bunda na cadeira, o pensamento no copo
Mas o corpo se ausenta dos ossos, sei lá.. fui indo embora sem sair do lugar

Mas não há lar. Não há pra onde voltar.
Na minha paisagem, ainda não há
Chego em casa resignada e meio tonta.
A chave gira, o tempo dá espirais, o pensamento é o furacão da estação que não sei que nome dar.

Calma.
Deita a alma com carinho.
Pede paciência ao que por dentro queima
(eu sei que vai passar, sei que vai, mesmo que ainda não sinta)
Desliga o painel, fecha os olhos

Nesse dia, quis beber pra esquecer.
Não consegui.
As letras do ‘nunca mais’ se misturaram, tremeram, mas não sumiram.
Eu continuava, mesmo encharcada, lembrando, lembrando, lembrando.

Era um dia e mais outros com esse corpo calado,
sangrando dor sem febre, sem pele, sem esperança que um dia passe.

Via passar o ônibus, e o mar à minha frente,
via correr a menina pros braços e abraços,
via o medo dentro de mim de que eu nunca mais enxergasse outros olhos..
o ‘nunca mais’ não sai de mim





Meu coração demorado. Pra onde eu vou agora?

quarta-feira, 7 de maio de 2014

por um café



A tarde cai. Eu a escuto.
Fazendo verde a noite do tempo.
Vou lá para anoitecer também as lembranças.
Certa dos domínios da lua nesses dias,
sou crescente,
e crescem em mim, além da barriga tão propagada e execrada,
o desejo, a raiva, a inquietação, e a observação.

Tudo por dentro (menos a barriga tão propalada.. e execrada, rs)


terça-feira, 6 de maio de 2014

domingo, 20 de abril de 2014

domingo, 13 de abril de 2014

lá depois


Do dia desse silêncio guardo músicas que cantem água

E fico na rede partejando despedidas
Partidas
Re-partida

Pra depois voltar a ser inteira-mente eu
Inteira-corpo, inteira-sonho, inteira-só-mente eu

Na hora que o sol leva pra junto de si, e só de si, a claridade que me alegra, fico olhando, sem tocar no tempo, porque olhar é uma coisa boa que o Vini me disse ontem à noite..
Não deixo de sentir o toque leve do amor, aquelas folhas que balançam verde, uma lembrança, uma fotografia que tinha escondido e sei onde está.. sinto tudo, e é tanto sentir que embaralho passos pra frente, passos pra trás, peço desculpa ao destino que escolhi porque às vezes não sei bem em que memória ele está, sonho o que não é mais de sonhar, esqueço de acordar e tomar o juízo, o café, o elixir que maloca entre o azul e o branco do céu da minha janela e a luz amarela que clareia o amor
Partiu o amor

sábado, 5 de abril de 2014

passe

A estrada não se mostra sempre.
A estrada, o caminho, aparece.............desaparece
Quando a vemos: aproveitemos!
Registras as pistas, as percepções, os sinais.
Quando ela desaparecer do nosso imaginário, aí é tarefa desenhar, falar, escrever, registrar, sonhar, gravar, tatuar.
Um indício de que houve.
Um registro da visão, da ilusão com certeza.
Dali escavamos a terra.
Dali escorremos para realizar.
A estrada nos diz para onde ir.
Mas ela é imagem, som, cheiro. Instantânea na sua certeza.
Restante do tempo é afinar, conectar
A estrada só conhece o frescor
não o congelamento
O caminho verde, na proteção dos elementais e orixás, uma luz de azul, e o mapa a trilhar, sem dados concretos e dando tudo.
Dos pés a cabeça, sabemos.
Da cabeça aos pés, esquecemos.
Na circulação, prendem-se memórias aos braços, virilhas, dedos.(certos toques nos fazem recordar)
A estrada é uma certeza.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

pelas águas que andei

no sonho,



eu estava segura, e ao largo passava um mar de ondas gigantescas e devastadoras
mas eu estava segura.

de repente vejo imagens que me interessam, a interação do homem com as águas, quero registrar.
o equipamento mais preciso estava longe, perto do mar, dentro do mar.
eu fui buscar!

parti pro gigante e pro desconhecido, que quando a gente tem medo, chama de 'perigoso'
parti sem sentir pra onde ia, parti por impulso
(parti porque onde eu estava não me cabia mais).. (A Alma Imoral)

não afundei. não morri.
andava pelas ondas imensas,
abaixo de mim, subterrânea, uma baleia azul enorme me protegia

e em comunhão com o meu desejo e com as águas, eu cheguei aonde eu queria.

terça-feira, 1 de abril de 2014

meia parede

espero ter tempo pra fazer as coisas que vejo e tenho vontade
pois, na espera, o tempo passa
e eu fico encabulada de tanto sonho pendurado nas paredes sem uso - ainda -
tempo pra fazer os imperfeitos
tempo pra curtir os descaminhos graciosos - veja bem, os graciosos!

para ter, sonhar
para tempo, vontade
ser uma pecinha tola que se esquece pra que serve
pois é no inservível que quero ficar
fazer minhas coisas, todas tolas como eu
e esquecer do que virou sofrer

domingo, 9 de fevereiro de 2014

a não festa

Na árvore do tempo amanheceu o domingo. De novo, meu corpo ergue o resto, ele mesmo reconstruindo-se na manhã. Decido que vou, que saio, que continuo.
Manhã de pessoas no céu de domingo. De passos, estratégias da busca e do não-encontro. Às vezes também me deparo por esses dias sem tropeçar em nada.
Correndo na orla o tempo do dia. Correndo passado, presente e o resto. Na casa vermelha, não há planos. Porque ainda não há tempo.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

lama



Não dá pra viajar toda vez que a tristeza se instala no coração de uma filha de Nanã em Sagitário

Não dá pra pedir licença no trabalho e dizer que a saudade é tanta que a cidade fica pequena e dentro de mim não tem lugar sobrando nem espaço ocupado.. não dá pra explicar pro chefe que o que falta e sobra escorrem na mesma largura e dimensão em mim

E no silêncio da repartição pública, meu coraçãozinho miudinho reparte-se em sôfregos sussurros.. quando você receber uma mensagem minha, saiba que é um suspiro o que eu quero pronunciar, mas as teclas desse meu celular arcaico/moderno não captam essa distância que a minha alma hoje trilha

Não dá pra sair daqui, assim como não dá pra estar em outro lugar. O confinamento de uma dor sem nome, de um amor ferido, de uma vida passando, é um bilhete único, fecho os olhos, e, nesses dias, aquela mesma paisagem que só sabe me consolar dizendo.. ‘vai passar’..