sábado, 27 de dezembro de 2014

o que tem depois de amanhãs

O trabalho é só meu.
Mas eu adorava o conforto do amor do outro, adorava o reflexo.
Duas Marias, outras marias.
O de fora cantava, eu nunca cantei.
O de fora era jovem, eu sempre envelheci.
O de fora, poeta, olhos como os meus.
Eu não precisava me esforçar, tão bom olhar-se nos olhos do outro.
O reflexo era mais nítido e bonito que a imagem.
Eu pincelava meus traços, mas não precisava finalizar, era tão confortável ser no outro!








Voltar o caminho árido sem distração foi 2014.












2015 é a mesma pedra, mesmo sertão.
Essas flores, na casa, são memórias.
Desejo muito chegá-las, tocá-las, sentir-me.
No jardim, sem a mão do outro, minhas mãos não têm fim.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

de um cheiro, outro jeito de amar o passado


Apagaram.
No carro, gritando. Pedindo socorro ao vidro fechado.
Apagaram.

É de passar o dia. De se perder do tempo.
De lembrar. E de esquecer.
Sonhar com a volta. Sonhar que haverá
Sonhar, e depois fugir.

E antes de fugir, lembrar o cheiro doce da tua boca naquele dia.
Não precisávamos de palavras moles para a nossa tarde, mas não posso falar por você, e pela extrema elegância e carinho com que me tratou, me festejou, e acompanhou o meu movimento – ainda que pensasse em outras posições mais propícias para o encontro!
Não te dei o que querias. E por vezes nos perguntamos o porquê. Você a mim. Eu a mim. De você a você eu não sei. De mim a você, nunca faço.
(Apagaram).
Foi tão bom que eu não gosto de pensar que aquela tarde nos separou depois. Em mim ela juntou à tua beleza a minha admiração. E eu iria lá toda semana, até esgotar essa vontade. Mas tá, eu nunca disse isso, nunca soube te dizer.

- a paixão empobrece minha objetividade.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

.. aos pedaços



O tempo gesticula passagens enquanto durmo.
Acordo sem saber o destino.
Sei que entro no sono como numa sala de cuidados, e essa noite – como em outras – pedi para desfocar imagens.

(todo amor é um erro?!)
Ok, não penso em ‘erros’ como meteoros que devem ser desviados da Terra.
Mas que pegamos o parceiro pela mão e partimos errando o caminho, confiantes na descoberta de um mundonovo.
Abrimos ruas novas, passamos por estradas desconhecidas, aquele beco que eu pensei que nunca mais teria coragem de entrar.
Estamos de mãos dadas, há o outro em quem confiar e amar.
A invenção, anseio particular, vai se reconfigurando pela necessidade do outro, dependência do outro, me perco na finalidade do caminho.

Ao longo do tempo, ainda caminho, mas a minha mão perdeu dimensão, tão aninhada esteve na mão dele.
Estou nas reentrâncias do labirinto, me suprindo para conseguir – e querer – levantar e sair.

Há meses, quando vou dormir, peço um colo de mãe para mais uma noite deitada nesse chão rompido, meu chão, minha vida.
Peço que me alimentem de sonhos, que me conectem com os meus elementos, minha força.
Acordo com informações.
Umas anoto.
Umas esqueço, como se o vento da consciência carregasse antes do registro, mais rápido que o meu retorno.
E há as que não há como dizer, sinto pelo corpo, rumores, mudanças.
Não há como me apegar, não há rostos ou estorinha.
Só uma sensação de estar em mim, ter recebido na medida do que posso receber, aquilo que peço..

O resto é aqui fora, é comigo acordada, refazendo a trilha que o amor engoliu.

sábado, 13 de dezembro de 2014

tiros!

Quem faz o tempo é o malandro que mora em mim
Soube que mora em mim tudo o que eu desej-o-ava

São umas teclas que sinto na ponta dos dedos, quando visito suave qualquer uma de mim..
Aproximo-me pedindo o arrego da compreensão, do que me baste, do me acalante, do que me transforme.. tudo dentro

O gato espia a noite que demora e balança a rede
Ele brinca com os fios que escorrem, sobe na cama, espreita a dor com o toque de quem sabe da impermanência
Vou arranhando até que consiga depois da saudade, uma verdade que seja minha
Promessa verde, pode ser mentira também, pode ser surpresa
É assim qualquer coisa de mim que quero ouvir, sentir depois da roupa, depois do amor

Ouço tiros! Fogos me comunicam a felicidade de algum lugar distante, bonita imaginação
Leio como quero, a peça como quero, a poesia como quero, a melodia como quero

Mergulhei, amor e mar sem fim ainda.. fico lá (aqui), tenho fôlego
Quando achar, volto
Flores, chão riscado e pedra.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Ritual da Lua Cheia


(águas de Belém - PA)

O Ritual era de cura, transformação e aceitação.
Entrega, gratidão e devoção.
Saí de Salvador à tarde, mochila e rodoviária.
Chegando lá, fui acolhida logo na entrada por um Eucalipto. Ele está na terra e no ar, na lembrança e no agora. Ficou comigo até quando me preparei para deixar o chão.
Espiralando na natureza, não havia um propósito específico, segui um impulso. No meio do fogo, no tempo de transformar, pedi acolhimento (à Lua) e descanso para o amor (ao Fogo).
Depois veio a Água, em chuva, banho, reza.. aceitação.
O mundo mágico soprou no meu nariz as cantigas e os ritos de uma tribo do Acre. Voltei pro chão, pra Terra, me agarrei nela. Pude ver o céu enorme de estrelas com os olhos fechados. Tive medo. Respirei. Devolvi pra terra o que não era meu. Intencionei.
Dali pra Cabana, espaço de cura. Envolvida pelo Rapé, fui silêncio profundo. Não sabia cantar, bater palma, ou gritar. Uma única palavra soube dizer: compaixão.
Depois o rio, águas de Oxum. E as ervas saudando o corpo novo.
Cheguei atendendo a um chamado interno. Consegui parar de fugir da Lua, acolher em mim o seu poder, a sua força. Busco paz, solução que só eu posso me dar. Com os ancestrais na natureza, me reconecto.
Como Mulher Selvagem que me reconheço e sou, Sigo em frente!


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

não ando só


Sem mim, outras canções, inspirações, novos tremores
Sem você, viagens, feminismos, o tempo

Quem diria que o amor desidrata? Que o amor desnutre?!
Pois, nunca soube.. sempre tola o suficiente para sentir que o amor, por si, por palavras ou intenções, girava a roda do mundo!

- Ah, então não há de ser amor!
é!
Também fiz essa alegoria.. gráficos, tabelas, colunas, previsão de certezas falsas
Hoje sei, em mim.. é
Só que, contrariando mesmo o que vou viver escrevendo, não muda tudo

Sigo pra entender as contradições
Sigo também para revelá-las em outras histórias
Sigo por impulso, e gratidão
sigo