sexta-feira, 29 de outubro de 2010



Não quero ser dita por outra pessoa
Mas às vezes sei tão pouco de mim nesse mundo
Um jeito ‘não sei’ para tantos gostos e opções
Um incrível desbravar-se e esforçar-se que no fim do dia eu não soube porquê e me sinto ainda vazia, e ainda cansada
Não sei se preciso desse abalroamento sempre pra entender meu rumo
Não sei quem fui antes dos últimos 20 anos, e isso me deixa chocada!
Não acho que vá me encontrar nessas tentativas, nem acho que deva
prever cada passo desse hercúleo e inusitado esforço..
Chego em casa e deito com meu computador pra escrever alguma coisa
que me dê significado ao mundo (na rua, uma moça insistiu em não me
cumprimentar, olhando pra mim e mantendo um olhar gélido – e fétido! –
.. como se insiste em ser desagradável.. gosto ou medo?!)
Minha vida de volta me custa um mundo de observações que a ninguém
interessa, me cobra um mundo de ajustes e meneios que eu não sei
fazer, e é com alívio que escuto que mais alguém não consegue ser
sociável ou alegrinho na rua.
Sei que sou densa, às vezes chata; divagante, às vezes pedante; tola,
às vezes idiota.. só não (me) entendo como posso ser tudo isso se sou
tão inteligente, e surpreendente, poética, amorosa, imaginativa e
apaixonante! O diabo é que não sei controlar o uso de mim mesma, não
sei dosar, nem conclamar meus poderes na hora que preciso.. de dentro
pra fora, eles só saem quando querem, ou, em geral, quando me
apaixono.. não tenho sabido apaixonar-me ultimamente pelo alheio.

Porque tudo dói em mim como se fosse marcar, se eu sei que é só uma noite?!

domingo, 24 de outubro de 2010

como queira

conheci uma mulher, sagitariana, cheia de furor e intrépida alegria. Ela gesticulava até ao andar na rua, fazendo planos, comprando chicletes. Sentia um medo aliviado de mim - por ser pessoa - e, depois do medo, agarrava a minha mão e não queria mais ser de outra forma. Era um amor poderoso, aquela mulher, mas, desorganizada e instável, não era de confiança, pois não sabia confiar.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

esse momento


acho que tem a ver com esvaziar uma caixa de recortes, retalhos, histórias, e, durante algum tempo, ficar olhando pra ela, vazia.
absorta por lembrar que ela já esteve abarrotada; cansada pelo trabalho extenuante de retirar tudo; em dúvida se esse era o movimento certo, o momento adequado; e, por fim, sem saber com o que voltar a preenchê-la.

estou parada, olhando para a caixa que é a minha vida.
se um lado dela me exige ação e movimento, eu cumpro! é necessário não extinguir o movimento, como manter um corpo respirando até saber o que fazer com ele.
ou melhor, respirar é o melhor a se fazer!
mas é fato que nesse momento, sem nenhuma pieguice ou indício depressivo, não sei pra onde gosto de ir, o que gosto de fazer.
nada ainda me tem por inteiro, estou metade parte da caixa, metade solta no ar.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Túnel



Te empresto algo que nem possuo
Algo que você não vai precisar me devolver
Nem que eu vou buscar de volta na tua casa.

Te empresto calor.
Não só pé, mas corpo inteiro.
Não só corpo, mas alma.
Uma parte de tudo que sou eu, ao longo de séculos de existência:
a parte silvana do meu mundo.

Te empresto alimento, para que nunca mais enfraqueças.
Para que tua voz, tão certa quando antes dizias meu sobrenome,
nunca mais perca a clareza pra mim.

Te empresto a glória, para que honres tua vida com a alegria e a fé.
Porque tu dizes que já possues, mas eu às vezes não,
e eu preciso que fiques bem para que eu assim me estabeleça.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Num dia 13 de outubro assim..



Quando eu era pequena fazia tudo certinho. Tudo em meneio, tudo bem devagarinho. Uma sensação passageira de felicidade, um desejo disfarçado de produzir arte.
Lembro do sonho que era um lugar de férias, somente para escrever. Lembro de como persigo hoje sair-me e gastar as horas com as palavras. Lembro de como hoje o papel me afaga e logo bem antes do que eu gostaria se despede. De como eu já sei que não dura esse amor, de como deixo a porta aberta para que ele saia. E faço de conta não ser alimento, e sim passatempo.

E também quando eu era pequena e achava que já não era, me orgulhava de não precisar de ninguém para sobreviver na chuva. Nas águas das minhas emoções, eu achava suportar tudo com o meu silêncio. E o meu orguho de sobrevivente. Não são palavras novas, todas assim eu já conheço. Vivo e soletro, em cada pedaço de vida. Desde pequena.

..................



A vida providencia novos dias. Aquela terça-feira não foi a última, o dia 13 cravado no meu coração.

Num dia 13 assim, de outubro, 1998, Maria Paula abria o caminho para que o Vini existisse..

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sobre não ter mais 20 anos - ou, como me disse, sorrindo, Jorge Sá - Sobre como ter manchas senis na pele


Sei que não tenho mais 20 anos quando percebo uma postura quase inexplicavelmente calma em qualquer situação. Mas me assusto com o novo formato do meu rosto, mais redondo ainda, espalhando-se para os lados e para baixo.

Este ano mudo de setênio e, na virada, mudo todo o conceito da minha vida. Anuncio que vou comprar um playground mas ainda não pude descer para brincar, só sentindo o gostinho pelo cheiro que sobe, sem ainda ter sabido pisar na grama molhada da liberdade.


E aí parece que vou vivendo, matando, enterrando e enlutando cada pequena perda, cada objeto, lembrança e saudade desses nossos últimos únicos 20 anos. Parece uma vida. E é.

Ao aceitar seu boa noite, e de manhã seu bom dia, dia após dia, vou vivendo e sendo como posso - como diz lindamente a música - me despindo dos esteriótipos raivosos e me cobrindo com liberdade bordada em promessas, sonhos, desejos. Penso naqueles que tentam entender e com esses converso, embora não tenha respostas a dar. E daqueles que julgam aleatoriamente, por maldade ou hábito, me afasto e busco minha paz um pouco longe deles. Muitos me amam, mas não sabem me ouvir. Porque eu não preciso falar muito mais; pra me ouvir direito, tem que sentir e só.

Não tenho medo mais dos 40. Nem inveja dos 20 mais. É um conjunto, a obra. E ando vendo, contando e sentindo com mais percepção e apuro que todo esse tempo que hoje está atrás da cortina. Espero, faço, me articulo, paro, olho, me emociono, me fortaleço, pago, sonho, viajo, vivo, escrevo, leio e fotografo.
São páginas, tecidos, pele.. materiais que vou traçando e trançando. Eles todos envelhecem também e, assim como eu, contam melhor sua história assim.