terça-feira, 27 de abril de 2010


Funções vitais básicas suspensas: comer, dormir, vestir, pensar em coisas variadas.
Suspenso também todo o restante do alfabeto, todo o vocabulário, todos os infinitos números e conceitos. Nada mais basta. Só você basta. Só você contém, formata e possui imagem.

Alegre e possuidor, numa tarde somos, numa noite não. Num dia espera, no outro detalhes. Primeiro promessa, depois cerveja cara. Antes sorrio. Agora também.


- o que seria da gente sem o passado pra nos colocar pra dormir nas noites mais tristes?! -

sábado, 24 de abril de 2010


Então ele perguntou: - ...

E só com o som da sua voz mergulhando no meu pensamento a instituição começou a se desmanchar. Foi caindo, desmoronando, ali, na minha frente. Num instante e por anos eu estive presa. No minuto seguinte à pergunta de olhos nos meus, não havia mais limitações, eu podia ser livre.

Selei o absurdo daquele momento com mais, decidi entre a dor e o silêncio num par-ou-ímpar. Jogo que só eu ganho, só eu perco, deu ímpar/você. Dei minha história pra você rasgar em duas partes, mas não te dando poder, tuas mãos eram minhas mãos, momento em que tudo ali, das xícaras de chá aos teus olhos eram eu.

Você, uma aparição de 6, 8 meses, ali desapareceu. Fósforo. Junto com as paredes descobertas, um ruído agradável dissipando-se. Você podia calar-se e ficar para sempre. Fez a pergunta, me libertou. Desinstalei-me da sombra, e o sol veio sozinho banhar-me. Nem saudade. O único benefício consumado, você me perguntou.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

os fins de semana se passam assim


estilhaços meus pela casa.
assim será esta despedida.
se é que posso dar palpites no futuro.

pedaços redondos, mas que não viram mais todo.
vidrinhos transparentes sangrando amor, cortando a alma e cosendo depois uma nova vida para mim.

tudo salpicado de vermelho pelo chão.
meus pés passeando com dor em cada canto revisto.

não escrevo triste. nem ausente.
as palavras fazem o meu trabalho, mas eu sou as palavras.

terça-feira, 13 de abril de 2010

para dormir e sonhar


voaremos sem qualquer paradeiro.

pelo esplêndido prazer de estarmos suspensos, no ar.
primeiro eu.
depois da minha alegria instalada, você virá.

domingo, 11 de abril de 2010


Lido com o abandono day by day. Como um treinamento infeliz, tenho mania de me submeter a sofrimentos previamente.
Ou, quem sabe, esteja numa vivência de resgate constante, lidando sempre com o 1º sentimento.
Pois parece ser essa a minha única certeza: o abandono. Daí o cultivo da solidão, o isolamento, a tentativa de autosuficiência.. sequelas e estratégia para sobreviver.
Já foi mais difícil, amargo e corrosivo. Era uma autoproteção, uma armadura, que deixava todos à distância segura para mim, em gradações. Uma garota fria na verdade é uma garota assustada.

Aprendi coisas boas. A leveza, a alegria, a paciência. Também a amizade. Peu à peu, retirei as vestes nobres do isolamento e pude dar companhia à criança solitária.
Então hoje reconheço o valor da companhia, da troca. O bicho 'abandono' existe, só não se alimenta mais de forma voraz. Come pequenos bocados da minha alegria, pequenas horas dos meus dias.

Sei que há um equilíbrio. Conviver com a falta e dar-lhe sossego, mas não torná-la líder da torcida. É parte minha, mas não parte única, e, com trabalho, não parte grande.

sábado, 10 de abril de 2010

acostumo-me com a minha própria companhia

(do filme que ainda não vi - e nem sei se vou porque os dias correm prum lado, as sessões pro outro, e eu na terceira via - Mary & Max..)

domingo, 4 de abril de 2010

todos esses anos me ensinaram a tolerância..
às vezes exagero, o que faz virar trouxidão (ser feita de trouxa.. hehe)!

mas não preciso mesmo me policiar pra não ser tão condescendente,
vou no ritmo,
às vezes intolerante ao extremo,
às vezes tão tão dulcíssima..

espere sua vez, e veja o que o infinito - na sua infinita bondade e justeza - te sugere.
a mim, sei que o amor

sexta-feira, 2 de abril de 2010

a conta gotas..

Tudo vai sendo vivido bem m-i-u-d-i-n-h-o
como se passasse por uma peneira apertada, de quadrados mínimos.

A vida gotejando, essas noites sofridas, esses dias pensando. E gotejando, vou bebendo sem enxergar o final depois.

Por enquanto só sei o durante. E o alívio, de vez em quando. Nada ainda claro. Nem acolhedor. Nem francês.

Quero descansar de todo esse fim.

Na locadora: "tout pour plaire".. e eu fico pensando se não é uma boa eu sair de casa..

bisbilhotices


Tenho a paixão como remédio para o tédio.
Como recompensa para o sofrimento do mundo.
Como presente de aniversário fora de época.
Como carnaval em junho, réveillon em março, semana santa em outubro.
Antes, não sabia como já existi.
Depois, não sei mais como existir.
Mas o durante sou tudo que preciso, isto é, eu + você!

Tenho o amor como o bicho mais prestes a ser que não chega,isto é, eu sem você.
Ama-se gatos & cachorros, Raul em especial, o Rim-tim-tim da minha infância, o Mimi que a minha vó rodopiou pelo rabo.
Ama-se filhos, um a um, de um jeito indescritível que nem vou tentar agora mas muito já tentei;
Ama-se pai e mãe, e é um outro mundo depois que eles se ausentam;
Ama-se amigos sem ambição e com zelo
Mas não é de nada disso que comecei a dizer
O bicho guardado, recolhido, escondido, arisco e doce, que arranha, até mata, acaricia, envenena, mistura-se à bebida e embriaga.. o amor de uma pessoa por uma pessoa, uma coisa perdida no meio de tantas outras coisas, uma porta entreaberta que não se percebe muitas e muitas vezes a fresta, uma cor diferente das que você pensava gostar, e imprescindível no ar, depois que se conhece.

Tenho a solidão como empresa capenga, mas que não se consegue liquidar de vez. A companhia de si, quando não se sabe pedir a mais ninguém. Quando se tem medo, ou vergonha, ou preguiça, de qualquer um dos amores. Quando não se tem a pessoa por uma pessoa. Quando acaba o remédio na farmacinha de casa, e não se sabe ir comprar outro naquele instante. Não se engane, falei, cada qual é seu próprio lar, alguns hóspedes eventuais, mas a morada em si mesmo é o único teto pra onde se ir. Cuidar de si é preciso.

Tenho pensado muito.
Tenho perdido muito tempo e mais ainda energia, na minha opinião, pensando desnecessariamente. Só não tenho conseguido parar a pulsação desnecessária. Conter o desperdício.
Tenho mantido o silêncio por preguiça ou falta de ânimo para novos dispositivos. Olhando e não vendo, volto a fechar os olhos. É isso, estou andando de olhos fechados.
Um dia volto. O mundo precisa de mim para manter o equilíbrio, por mais desequilibrado que ele se apresente, mesmo na minha presença.
Com oração e fé, volto a abrir os olhos. Começa bem aos poucos, como se a luz incomodasse, não haverá mais lágrimas para o desespero, pois não haverá desespero tamanho. Visto uma roupa limpa, acordo e vou andando, ouvindo uma música, achando o caminho com o passo. Hoje pensei no quanto esqueci, e não fiquei triste, antes atentei pras formas que posso me resgatar.
Não nasci em Salvador. Não sou mãe desde o começo. Não estou ocupada ou dependente ou solitária desde sempre. Voltar às origens para buscar força, reiniciar, digitalizar a parte mais poderosa de mim, e recomeçar!