quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

cortejo

Morrem umas Silvanas, para outras passarem
Provável que uma das que você conheceu não exista mais
O cabelo outro, o passo tá diferente, e o lugar na cama à noite

Seguem Silvanas dispostas ao mundo
Enquanto outras se misturam à barra da saia do amor e sorriem encabuladas para nem chegarem na Dinha

Umas morrem, para que outras vejam a Lua

Trocam-se por mares e leveza.
Vestem-me com águas e brilhos.
Escrevem-me, para me saciar

Que aquela que você conheceu, talvez nem exista mais..

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

a resposta é não


A escrita tenta libertar
Lembrar lembrar lembrar
Escrever escrever escrever

A memória vive se batendo no cômodo
Me instiga a reagir, me leva ao passado, me resigna, me dilui, me distrai
Acho que ela também não sabe o rumo a qual pertencer – como eu

Quero o passado no passado, assim como o blusão velho que era da minha mãe. Sei que era dela, sei que ela o vestia, se parece com ela ainda, mas não vai trazê-la de volta. Não vai me reinstalar num mundo com mãe. Saber disso me faz entender o passado no passado.

Às vezes a memória me empurra no precipício. Não sei o que ela quer, não sei do que precisa, mas sinto suas mãos fortes – mais fortes que as minhas para reagir – me jogando. O precipício é pra frente, mas com as lembranças boas vestindo caveiras de saudade.

O que faço? Escrevo escrevo escrevo

Há outros rituais. Esse é só o mais antigo em mim. Esse é puro, do tempo de um diário rosa no quarto da menina. Nele entendo a queda, e porque não consegui evitar o golpe. Nele faço carinho no corpo cansado que me pede pra eu não me ausentar de novo. Nele, e em todos os outros, procedo devagar o espalhe do olhar curador por mim.

Hoje teve unhas vermelhas, ruas nas ruas, afago de gente bonita, cerveja gelada no copo. Ao ser empurrada, larguei tudo e fui. Podia ter me protegido, mas ainda não faço isso sempre bem. Despenquei na água mas o grito não soube sair. (essa mania de não querer incomodar, esse orgulho de não querer ser humana).

Como nos castigos antigos, reescrevo a mesma palavra, vezes & vezes. Levanto, volto. Faço alfazema, viro do avesso o sentimento.
a resposta, anotada na agenda no começo do ano pra que eu memorize e viva, é não

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

as outras árvores


Há pessoas que nos interessam. No meu caso, não são muitas. Gente não é a minha especialidade nem a minha aptidão natural.

Sou pouco sociável, diria até que vazia, nas poucas tentativas que faço. Não sou espontânea no contato aleatório com pessoas, oscilo entre o medo, a falta de vontade e a timidez.

Mas, sim, até mesmo em mim, aparece o interesse. Desisti e descansei da ousada proposta de muitxs e muitxs amigxs que um dia vislumbrei. Achava gostoso encontrar pessoas conhecidas na rua, estar sempre acompanhada casualmente, as coisas acontecerem e as pessoas estarem por perto.. acho isso como um dom. Que obviamente eu não tenho! 

Frustrado o intento, coisas boas aconteceram e eu acabei tendo por perto esses ímãs naturais de luz e receptividade com a vida e os seres, minha filha um deles. Olho pra ela em comunicação constante no mundo e me alegro só por estar perto. Sei que não é a mesma coisa d’eu ser um deles, acompanhá-los é o caminho do entorno, do conforto, da satisfação na construção dx outrx. Mas sei também que a minha falta de traquejo com o mundo real e social me exclui de possibilidade mais próxima que essa. Eu acompanho, não mais além.

Os tempos me interessam. As cores. Os ventos. As intuições. Os presságios. Os elementos. A natureza. Pessoas, quando se misturam com essas forças, se misturam comigo também, no meu imaginário. As pessoas que me interessam são o mesmo que árvores, que músicas, que poesias, que cores, que tempos, que eu.

Talvez por essa junção, não haja mesmo em mim espaço para grandes populações de amor particular; talvez por isso também me demore tanto em cada uma delas. Cultivo da minha infância critério de sobrevivência que dizia a menina não precisar de ninguém. Pensava emocionalmente. E carreguei esse estandarte por muitos anos, até poder humildemente olhar para alguém e confiar o meu amor. Eu me preciso tanto quanto preciso de quem amo.

Assim que, para deixar partir parte minha – as pessoas que me interessam - são rituais de entrega, desapego, abandono, transmutação. E leva tempo. Tudo queimado para que, na força, eu me devolva à natureza. Pessoas são natureza também. As pessoas que me interessam, pudesse, estariam sempre por perto. São tão poucas e eu queria que não me deixassem. Nem sempre é assim. Pessoas se mexem, se movimentam, ampliam-se, sonham-se.. e partem

Pelo movimento das águas e das luas, perambulo. Pedindo assim, que o mapa universal me localize, para que minha tribo me reencontre e eu viva a sorrir!


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

da lua nova


Daqui sigo

Com a rede na varanda, escuto os mundos..
um interior que às vezes derrama saudade;
o da rua, lua nova, os cachorros, os barulhos da noite que me acompanha;
o imaginativo circular das histórias que só alcanço murmúrios, preto & branco do que sonhava ser

Há outros sonhos, não é planeta único aquele onde não deu tempo de ir..
Curioso esse costume de só lembrar do que não consegui viver..
há tantos dias mais bonitos que os perdidos!

Na quarta, quando na casa partes minhas queimavam, eu não sabia e pensava o quanto ainda precisa ser destruído pelo fogo.. o que ainda tenho que resista a tantos mundos passados?!


..............


protegida a casa e as pessoas, todos, todos sobreviveremos para contar nossas mesmas histórias de amor e arte

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

antigamente

Quero as chaves de volta
Pra deixar tudo aberto
Escancarar coração dos homens-mulheres
Deixar o sexo no desejo
E não voltar mais
Não querer mais
Não saber mais

Porta pintada de vermelho com coração de madeira emoldurado
Águas azuis e verdes nas estrelas
Peixes na perspectiva
Do jardim dá pra ver a lua
Que destranca qualquer sonho:
todo pedido a lua concede - a seu modo

é do sonho um esquecimento tardio,
que não despreza o amor; apenas o acomoda, como o girassol na varanda do quarto
é de parte da minha vida essa estranha maneira de reconhecer as jóias e entender a desapropriação

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

mais as outras duas


tão mais poeta. Tão mais humano que eu.
tão mais profundo. Tão mais íntegro com cada tempo, cada sentimento, cada palavra.. dita, escrita ou sentida.

Tenho vontade de dizer meses e dias e horas de mim sem você. nós inexistentes. Pra mostrar onde você estava em cada poesia que escrevi.




Há tempos.

Pessoas entram na minha vida por janelas que abri exatamente à espera delas. Tão importantes se fazem, tanta felicidade me trazem, que quando me deixam, preciso me reorientar como depois de uma queda feia, daquelas que se quebram os ossos, perdem-se os dentes, chora-se na dor que demora a passar.

Volto a passear, ossos remendados, dedos e dentes colados. A praça faz uma passagem clara; no banco, sentada, a saudade do tempo no mais profundo, a pele.








Seguro minha existência tentando preservá-la no que sou. Voltando pela sombra (da calçada), sonho em como seria mais divertida, mais emocionante, mais frisson e cheiros, se eu não fosse como sou. (se eu não fosse eu, seria mais feliz?!) Nossas conversas gotejam um isolamento genérico, e, para mais além, sou esse tempo sem companhia, que boia no mar calmo da Rainha sem companhia, que afunda nas águas doces afogando o jeito fácil de conviver, te ser tocada, um beijo.
Não tenho forças para querer além de mim. É a minha salvação, e a minha solidão. Sustento-me nos meus silêncios.






....................



O caminho é não lembrar tanto, até não lembrar mais. E de repente esquecer.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

se passas perto de mim..


Atravessei a rua, indo pro ponto de ônibus. De outra ramificação, uma mulher, na minha frente. Vejo suas costas. Uma senhora, provavelmente mais senhora na aparência que na idade. Cabelos grisalhos presos em coque bonito, blusa bege (não nude!), saia marrom comprida (tipo dois dedos abaixo do joelho), bolsa no ombro esquerdo. Pele marrom, combinando com as cores da roupa. Pernas tão bonitas, tão bem torneadas, tão elegantes andando na rua.

Me apaixonei pela mulher à minha frente, de costas. Andei aqueles passos mais lentamente, atrás dela, apreciando a beleza do seu contorno, das suas escolhas aparentes. Me envolvi com o seu silêncio, me enebriei com a expectativa da sua energia.

No próximo cruzamento, ela virou à esquerda, eu segui em frente. Um rapaz seguiu andando logo atrás dela.. “rapaz de sorte” - pensei..
Eu tinha que seguir meu caminho. Claro, podia ter desviado para o caminho dela pra continuar próxima, mas hoje não fui..
E me perguntei: “o que acontece quando a gente se separa ainda apaixonada?!”

(a partir daqui sou eu conversando comigo, no meio da rua..)

- é triste.. e difícil..
- mas também pode ser bonito, marcante.. porque continuo vivendo a força do sentimento, a paixão, o contentamento com outra pessoa no mundo, o mistério que me faz amar alguém..
- o que se perde, o que foi pro outro lado da rua, da cidade, foi o ‘objeto’ da paixão, a materialização do sentimento.. Então eu perdi a posse, mas não a intenção em mim..

A mulher que eu não sei o nome, nem o que pensa, nem o que gosta de fazer, entrou na minha frente, na minha rua, na minha vida, pra me lembrar, sem dizer uma palavra, que a minha capacidade de amar, de me apaixonar, é louca assim, vem num impulso distante da lógica, e me faz muito muito bem..

Fui apaixonada por ela por 20 minutos.. um excelente começo de rua!

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

mude-se pra perto de mim

Me recupero em mundo paralelo

Parece que não levo nada daqui. Parece que não trago de lá nada pra cá.
Por isso essa luta silenciosa todo dia, já se fazendo ano

Quero que termine esse mistério. Quero que deixe de ser
No sonho, de repente, uma visão me liberta ............... o tempo do sonho escorre nos dias que vivo, morro, vivo ............. deito na Fortaleza, agasalhada pela rede do tempo, e quero, pra mim e pro mundo, que seja leve essa passagem




pois já choramos o que podíamos juntxs