sexta-feira, 30 de novembro de 2012

cura

"Digerir. Processar. Não responsabilizar o outro. Resolver-se. Bastar-se. Independer-se. Para ser livre, saber ser só.

Talvez quando eu for outra saberei ser do jeito que acho mais gostoso ser. Por enquanto, nada tanto assim. Ainda algo corrói, ainda quero largar por incômodo. Ainda dispenso o confronto, mas não durmo feliz. Estômago em conflito com a paz.
Mas o outro não será responsável pelo meu sono nem pelo meu prazer. Quero e por isso construo um mundo interno fluindo com as minhas próprias energias. Dona, só de mim. Posse de ninguém. Meu juízo e minha esperança.

Quero a marola da minha própria onda. Cada dia que passa me aproximo mais por desejo do meu silêncio. Cada reflexão me faz almejar a minha paz. Saber que o outro não é meu nem nunca será, pois cada um só pode ser verdadeiramente de si. O resto é mentira. Disfarce ou desespero de quem não sabe ser só. Eu aprendo. Cercada de amigos para aprender o momento de ser só. Na cama com um homem que amo para sentir que o único pertencimento é de si para si. O sexo na passagem, o amor como símbolo e concretude, mas minha lição é implementar cada vez mais profundamente, com simplicidade e alegria, o que em mim sempre foi tão sugestivo e agradável: ser só.
Não tenho ninguém que não seja eu própria. Não falta ninguém porque eu já sou. Ao superar os padrões inventados do egoísmo, da frieza, da insensibilidade, eis o que sou: eu mesma. Não quero pertencer a mais ninguém, nem que ninguém me pertença almejo. Até lá, vivo etapas necessárias para implementar esse conhecimento tão meu. Tenho paciência, curto esses estágios primários, tranquila pois já estou no caminho. Na trilha da minha essência.

Despeço-me do outro, em desapego. Pelo que sei sem lições, sei por já ter trazido. Cheguei há quase 44 anos e trazia essa simples muda na bagagem. O outro vai embora em sua própria trajetória. O outro é de si, eu sou de mim. O outro dá o que ele precisa dar, não o que eu preciso receber. O que eu preciso, sairá de mim. Em goles de água, em silêncio, me balançando na rede. Cada um me ensina um fio de pêlo do que sou. Saber-me é a minha aprendizagem com as outras pessoas. Desapegar-me é um passo do meu caminho. Uma volta da minha espiral. Células minhas despertarão para minha subsistência. Amando, saberei despedir-me. Não de uma ou outra pessoa, mas da necessidade tardia de ser de alguém, de ter alguém para ser meu."


sábado, 17 de novembro de 2012

o corte

se eu perdesse a mãe todo dia,
seria como hoje
um todo a reinventar
parte desconhecida subindo rápido da água para respirar
e novamente me afogar

quando isso acontece
- desde 2007 que preciso saber -
volto eu pro embrião, lugar de mãe
encolho, recosto o que sou no coração da terra
soluço
suspiro
tento acomodar a dor

posso ser qualquer uma,
coisa ou mulher
pedra ou prazer
mas saber é outra coisa

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

sobre o mar

queria dormir
não para descansar,
mas para achar outro mundo
reparar o desconhecido que habitava em si

acordava duma madrugada de tarde
e sabia o que havia lá: liberdade!
do outro lado, de cá, já eram movimentos desconhecidos,
voltaram pra caixa do esquecimento-nosso-de-cada-sonho

e ela optara por não anotar
ou buscar a chancela terapêutica
guardou para o nunca e nem para si um segredo

de volta,
a casa com barulhos
sem respiração ofegante
sem teto
com brechas
esperas
e paredes que desapareciam ao apagar a luz

memória que se apaga
vela de mim mesma
eu,
fogo instável e em sumiço
esperando quem saiba amar





domingo, 14 de outubro de 2012

o truque vermelho

também me canso de chorar,
às vezes..
não me canso de me ver chorar porque nessas horas não estou no espelho,
mas me canso de sentir dores que não sei comentar nem definir (só um pouco escrever)
e sigo chorando, é o que consigo, para conseguir seguir
às vezes..

e também às vezes machuco outras pessoas além de mim
os que estão além, os que não sou mais eu, que passaram da risca, dos meus limites, e ainda assim existem (esquisito, isso, não?!)
machuco com meu olhar abstrato, no espaço que não é nem eu nem o outro..
ou com meu beijo frio, deslocado do mundo do afeto..
ou esquecendo o amor
ou sonhando sonhos ruins e não conseguindo sair deles depois que acordo
ou escrevendo, sem que alguma palavra eu saiba dizer sobre qualquer coisa

não posso me desculpar, pois sou eu mesma
nem pra mim, nem pro outro
nem pra pedra, ou pro gato, ou pra árvore que não consigo mais amar sem dor
há uns 20 anos atrás mais ou menos foi a primeira vez que me disseram que eu ficaria só, 'desse jeito'..
não me resignei ou me esforcei para ser tudo aquilo que me foi prometido

mas era um visionário aquela pessoa que eu nem me lembro mais quem foi..
desse jeito








quinta-feira, 4 de outubro de 2012

território livre, amar


No dia que você nasceu
eu andava fantasiada pelas ruas
da minha casa
declamando teu nome que eu ainda nem sabia
te esperava - não sabia
te amava - não sabia

pra saber, te chamava: poesia


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

é lá


Arrumou o cabelo
o vestido
o dinheiro
o batom
o sorriso

esquentou o pão
a saudade
o corpo
a cama
as ideias
os vagares

destinada a esse abismo
que é o dentro.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

chegou antes da hora
mostrando mais uma vez que não sou eu quem penso certo o tempo
chegou forjando silêncio – como se eu já não soubesse como é..
preciso então dormir o tempo,
encostar pra longe o tumulto, o barulho, a multidão
porque, agora, o que preciso é de mim



quarta-feira, 5 de setembro de 2012

trecho rasgado

só que hoje,
para amar,
haverá uma pessoa que caminhe na minha poesia,
venha à minha casa
e boceje sua alegria no meu banheiro.
nada menos que o meu mundo,
é que tenho para oferecer


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

em mim, minha consistência, meu lodo, meu sólido



pedra também tem saudade

do tempo que era onda,
do mundo onde era sal.

pedra tem coração, ama.
quando vira homem, pedro. e aí esquece momentaneamente seus superpoderes. estranha escolha.

pedra no lugar de fora dela
com sua sabedoria, esperando.
a gente, gente, se ocupando de não perceber, de panos para o corpo, de livros para ler.
pedra esperando que a gente saiba o que ela já.

pedra gosta de carinho, como gente também.
mania de atirar a primeira, não precisa.
pega e guarda na casa, no jardim, no bolso. ou deixa solta, e com o olhar do afeto.

fico pensando na consciência da pedra. acredito! se pedro tem, porque pedra não?!
entendo pela pele e sua memória, outro conhecimento. aceito-me. sinto.
fico eu, sonhando pedra, lembrando. fica pedra, estática na aparência e nunca no mesmo lugar. movimento perspicaz de manter a imobilidade e, entrelinhas/entreterras, agitar-se.

em mim, minha consistência, meu lodo, meu sólido.
pedra pra dois, achada por quem ama
há dias que o amor me beija e eu sinto, bem de manhã, como um café quentinho
pedra pra dois, trazida por quem ama..
vou ao espelho, pego.. sinto o amor, de dois, de três.. o amor do mundo na pedra de mim.
pedra pra dois, dada pros dois, por quem ama..


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

passagem

Percurso de pensar no amor.

No verso da lista de supermercado, outras palavras, umas lembranças, certo lugar do corpo
Coração rabiscado entre laranja e ração do gato raul

E eu, rabiscando qualquer lugar qualquer pensamento, vermelho, amarelo, riso, pouco, coragem, minha guarda, meu pedaço..
Do meu porão, depósito dos guardados, sobem eles & elas.. de saudade a esquecimento, chegam como uma festa, ou um velório

Mas se a velocidade pediu sossego, sou em quem fico..
Depois, no sumo, na verdade do minuto, no vento do amor
Deito e delimito no chão o pouco da extensão que é o corpo de mim
Imaginária, a linha é leve e quer sair, quer ser mais do que sou só eu
Pego de volta, dou-lhe laço para que seja sorriso
Não sou muito, mas suficiência (paciência..)

Com o dente que resta, corto a ponta pra não deixar rastro
Para que não espalhem-se gotas por onde não queiras
mas que é certo aroma, rastro e esperança

Não finda o percurso,
não deixo de pensar,
não acaba o amor.

..Carlos Drummond de Andrade






segunda-feira, 23 de julho de 2012

sobre ser




a arte, feminina, o meio da flor, irrompe a dinastia feminina no meu braço esquerdo.
mulheres fortes, minando amor, em seus tempos distintos, sangrando a força da terra do mundo, rosa vermelha grafada nos ossos.
não as substituo. vivo-as em outras pessoas, a honra de pertencer a todos os tempos, vivos e mortos. um trejeito, um chapeu, um brinde, até um acaso.
por elas, eu. sigo em frente, mesmo que mire o chão. também vou pros ares, pros sonhos, pras noites.
trata-se do que conheço, e do que não conheci. do que dei nome e do que não sei como se chama. são fogo na minha perspectiva sagitariana, mas também são água, do choro à cachoeira; são terra, na minha base sempre tão relutante; são ar(es), pois com elas eu voo(u).
do lado esquerdo, onde eu assino meu nome, e tiro sangue, e preparo o alimento, e falo de amor.. desse lado, as mulheres que não param em mim, não cabem, não se objetam, nem se subordinam
não há posse suficiente para uma mulher. não há mais cintos, nem letras ininteligíveis.
nossos seios estão nas ruas, não na mão dos homens anti-proprietários, mas na nossa conduta despudorada e bela de sermos e estarmos onde e com quem quisermos!
nem uma só palavra me foi dita assim por elas, mas foram elas que me ensinaram.
e eu amo assim, acredito assim, admiro assim, respeito assim.
se não pode, não dance com uma. se dançar, saiba que é pra todos os palcos, porque o mundo requer autonomia, e LIBERDADE NÃO É CROMOSSOMO, é condição para estar aqui

segunda-feira, 16 de julho de 2012

segunda-feira

Ultimamente,

tudo se grafa com as letras do teu rosto: barba, cabelo e bigode.
tua pele na dobra da cintura,
teu olhar - quando me ama,
teus passos aflitos e dançantes.

como uma imagem que não existe,
como um homem que já não houve,
como a poesia que não foi escrita.

Tudo,
nessa casa do meu corpo,
transcreve ilegalmente você.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

das árvores


Seu cheiro andando sem corpo e sem roupa dentro do meu quarto.

Fecho a porta e sou só eu.

Não sofro, sorrio. A lembrança é doce, o cheiro é teu.

O dia fechado, inicia-se a madrugada.

domingo, 3 de junho de 2012

esse doce acolhimento de voltar pra casa

Meu coração se enche de corpos em poesia
Meu corpo, retributo, fascina-se de corações, todos sentidos vermelho.


Faço moldura redonda com ele, leves contornos de poesia cheiro de manga.
Cor de amarelo como numa estive.
Cajá, às vezes, lembrando-se sonho que não era meu.
Um suco e um jeito derramando-se por dentro e fora dos suspiros. Esses, meus.

Moro na cama branca no meio da vida.
Brevemente ancorada em onda e sal.. sagitário precisa sentir-se livre para ficar
É assim, como você disse.


domingo, 27 de maio de 2012

do que sinto saudade


qualé a parte
desde quanto tempo
porque
ainda quanto mais
de que tipo se trata

certo amor, certa paixão
que se leva pra rua e distrai as calçadas
permanecer não é estar
os roteiros não me explicam
sinto.

do teu tempo
cabelo, sorriso, passo, cheiro
da tua parte na minha - boca, voz, roupa, abraço.
de um silêncio que passa direto pelo meu barulho,
que cala tudo pra fazer amor.

de ser ouvida
de ser tocada
de ser gostada
da mão no meu peito
(de um certo sujeito)

saudade de estar livre e perdida na pele do outro
e de que o outro seja você também sinto saudade, quando não estás aqui.
saudade de pernas de um lado pro outro, e do barulho se calando porque chegaste
(não era antes você) (mas já era eu)

sou eu sempre. comigo, sempre.
Pele suja, manchada, língua seca. Pouca voz, muita palavra.
Eu no sapato, cadernos, colares, cores.
Eu na bagunça, na desordem, nos sonhos e no sono.
Eu na saudade.

é de você que sinto saudade. Do que encontro em ti e do que me trazes, sem que eu queira ou peça, ou que por menos eu saiba.
De você de todo jeito e por todas as partes.
De um inteiro que eu nem conheço, só quando o meu olho encontra o teu é que sugiro

(saudade de não termos todo o tempo entre as nossas gerações.. mas coragem para amar mesmo assim)

Saudade quando passamos por cômodos diferentes da casa, ou quando tu sais e eu fico. E quando tu ficas e eu saio, também
Quando de um lado do telefone, um, do outro lado, outro.
Ou de um lado da máquina um, do outro lado outro.
Quando numa cidade um, noutra cidade outro.
Ou numa festa um, noutra festa outro.

Saudade só se acomoda feito o gato gordo na conchinha das minhas pernas quando encontramos a alegria e a dúvida que nos veste, tiramos tudo, jogamos no chão, e ao nada nos entregamos.

Saudade deita-se no amor e sorrindo adormece..


segunda-feira, 21 de maio de 2012

eu nunca soube realmente como seria..



Passeando
de pele a rua
Sorrindo
da boca ao resto

Falta muito ainda pr'eu entender,
e pouco pr'eu te tocar

Tem o silêncio, o beijo
a dança, a saudade
Tem o suor, o cheiro
a vontade, a árvore
Tem o afeto, o olho
a nuvem, a pedra

Tem eu
Tem você
Tem eu
Tem você

E lá, depois,
na curva,
no coração,
na estrada,
na praia,
no sonho,
na vida,
tem nós


domingo, 13 de maio de 2012

por la nuit

você é só você
nesse fim de mundo
que sou eu


um tal romance
essa minha escolha
você

quinta-feira, 3 de maio de 2012

por dia

manhã
você desce do ônibus, eu começo a sentir saudade..
vou preenchendo os espaços
mando mensagem
faço silêncio
programo desnecessariamente o que não vai acontecer
e sindo saudade..

tarde
tempo enquanto tento
paciência enquanto não consigo pensar em mais nada
a hora de te ver
o jeito de te ver
a chance do teu abraço é o que espero,
no tempo em que te espero

noite
me viro de lado
e pelo avesso, às vezes
não consigo mais lembrar de um só sonho dos que durmo
porque acordo e vejo você, e esqueço o que tinha antes na memória



domingo, 22 de abril de 2012

filomena




se meu cheiro acalenta tua memória.. é que já estive aí
entre a minha e a tua infância,
somos somente crianças querendo os aromas,
as cores,
os desafios de volta.

sem geografia afastando a paisagem,
sem contas a nos perder no tempo - tempo, de ampulheta, viajou pela nossa américa na mochila do menino-amor-andarilho.
assim me perdi
agora, o seu amor no corpo do mundo abraçado
mais tarde, um de mim, uma de você, vestindo livre o que quiser ser


terça-feira, 27 de março de 2012

milhas e milhas

vamos morar no meu quarto dia 8.
vamos nos mudar, de pernas e coração, pra minha rede vermelha.
bocejar alegria por todo o espaço prometido, voar pela minha janela até que entrem todos os amores que sentimos por ela.

vamos redecorar os espaços tardios, e o tempo perdido em conceitos que não nos interessam mais.
vamos inventar as cores e pintar tudo de anjo e prazer.
vamos ser uma brincadeira!
vamos saber o tempo do qual somos feitos.
vamos à rua, à praça, ao cinema, dentro do meu quarto

(pra depois de tanto pequeno tempo..
entre preguiça e aconchego, perceberemos, ofuscados, o que vem depois do amor)


segunda-feira, 19 de março de 2012

corte & costura


me aprenda
depois me conta como eu sou,
com os olhos de quem ama

terça-feira, 13 de março de 2012

Meu plano / O outro / Uma trilha


minha atualidade.
meu conhecimento geral.
meu teto.
minha alegria.
meu vestido.
minha estratégia.
meu engano.
minha mentira.
meu pedido.
minha história.
meu romance.
minha vontade.
minha música.
minha arte.
meu erro.
meu passado (recente).
minha memória (perdida).
meu pensamento.
minha fome.
meu vinho.
minha razão.
meu café.
meu passo.
minha idade.
meu beijo.
meu cheiro (de homem).
meu gato (raul).
minha mão.
minha parte.
meu gosto.
meu prefixo (des-).
meu menor (amar).
meu ponto.
minha areia.
meu terreno.
meu perfume.
minha saudade.
meu argumento.
meu silêncio.
meu segredo.
minha moça.
meu papel.
minha janela.
minha letra.
minha brincadeira.
meu domingo.
meu começo.
minha flor.
meu encontro.
meu filme (francês).
minha mochila.
meu documento.
minha boca, pescoço & ombro.
meu retiro.
minha festa.

meu amor. meu amor. meu amor.

quinta-feira, 8 de março de 2012

desde a criança que sou

Escrever acompanha meu sentir desde sempre.
E sentir sempre ocupou um lugar grande no banco dessa praça aqui.
De uns tempos pra cá,
como esse barulhinho bom de chuva na janela que amanhece,
sentir ficou-se mais belo, mais brilhante.
Escrever se apaixonou.
Desde então, escrever quase não faz mais o que sempre soube seu, doou-se em contemplação a sentir.
Não tem falta, não esfomeia, nem pede roupas para cobrir-se.
Escrever abandonou-se ao amor sem palavras.
Sentir foi-se virando tudo que há.

Flores amarelas e vermelhas enluam a janela.
você, eu


sexta-feira, 2 de março de 2012

Pedro e Filomena

O amor vai causar em nós a melhor das impressões.
Imprime vitalidade, experimentações e perfume.

Ao sentir-se emaranhado, patrocina silêncio.
Destaca os gestos mais sutis
e alardeia dança e ventania nas ruas,
quando a pele o absorve.

E quando amanhece a janela
uma profusão de amarelos e vermelhos
eu, você


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

a história que eu ouvi de um barquinho no porto


os meninos se aventuraram, lançando-se ao mar, num porto para seus sonhos e desejos de criança.
nadavam em liberdade expressa, transgredindo a rigidez dos homens da outra margem. na garrafinha descartável, o segredo, o mistério, a promessa de um tesouro. infância, brincadeira, alegria. uma aliança encantada, arremessada em braçadas longas, em sorrisos.
chegando ao navio-barquinho, piratas, roqueiros e ninjas, de longe avistando o futuro, sem qualquer pressa em sê-lo. não há compromissos firmados, a imortalidade se resume àquele encontro, àquele momento, ao amor daquela visão do mar. quantos meninos-piratas, meninas-sereias, meninos-de-cachos, meninas-de-saia, conhecerão ainda esse encantamento?! um enredo de prazer apostos, dispostos a desbravar as águas pela promessa boa.
sal no corpo, mar na alma, o pensamento seguindo as pistas da fumaça, sem nada para proteger-se. desnecessário proteção. é seguro amar, ainda que perigoso aussi. os meninos, destemidos, lutam contra seu inimigo armados pelas fantasias, invencíveis, ainda que vulneráveis. o amor insiste-lhes instabilidade, insegurando-se assim ao movimento azul..
navegadores também de outros cantos, inscrevem nas suas saudades as iniciais dos primeiros amores, de lá - nem tão longe - da infância. nessa aventura, chama-se liberdade cada inspiração mergulhada, e banharão nos bares e coxias as águas do nosso tempo. é a memória alegre que vai percorrer 2012 e seguintes, contada a história por esses marujos.
espada de madeira, barquinho de papel. tesouro principal escondido no peito de cada um, coração.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

quando ela viajou pro mundo autista


E você, parte de mim já, vale por tantas mulheres e tantos homens.
Você aperta. você abraça. você acalma. Aprendi a entender Barreira depois que você chegou.
Eu noutra mulher, 26 de novembro.
Eu fogo. Você fogo.
Queimamos em brasa distinta, mas nossa chama é uma: amor.
Você não faz falta: você está! Aqui, comigo, olhando, seduzindo o ar com a sua vitalidade, sorrindo o mundo comigo, o olhar profundamente sempre.

Fiz comida. Dispus os bowls. Servimo-nos. Fartamo-nos, já que amamos. E comida com amor é coisa que sacia. Não alimentamos, aqui, corpos somente.. saciamos alma, ainda que não com certezas. Temporariamente saciados, como nós incitamos ser.
E quando sentei lá fora, vento no rosto, quis contar quantos éramos..
7?! Não, tem ainda Adriana! Naquela sombra que a árvore faz na parede amarela. Naquele olhar que eu sinto e que me protege.

Você pode estar em outro ou qualquer lugar, ainda assim, estará comigo!




sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

ouvindo a música no ônibus, outra espera



acho que já estive nessa vida dele antes. ainda sem saber como. se devagar, lentamente, displicente. se em pânico ou em êxtase. se sentados, ou tentando o equilíbrio. investigo se consigo iluminá-lo, como antes eu sabia fazer. e encontro um ele outro por dia. anoitece, um beijo; amanhece, não sei.

em mim, lindo homem. e algo me iluminando por dentro, me penetrando pelo jeito do amor. também assim percebi que nele a luz vibrou. sua beleza comentada, descrita com o epíteto de meu bem. não sei de que mais pertencerei, o mundo tem me contado boas histórias. talvez amadureça bem até saber dizer adeus a todos.

sem queixumes, sem saudade. saber-te meu e saber partir no mesmo abraço. a poesia que começa na pergunta, mas agora eu só quero outra fome, que não é de amor, mas de saber. Saiba me amar. de querer. Queira me amar. o mundo, esse outro, vem sendo bastante generoso com as minhas perguntas, às vezes com respostas obsoletas, às vezes com silêncio. não adianta, ele gasta porque tudo se resolve comigo mesmo, em mim, por dentro. o olhar do outro, assim como o amor do outro, são apenas lentes - de aumento, binóculo, de contato - para que eu, por mim, me seja.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

pistas, rastros



corre todo o corpo,
corre todo o mar,
você em mim


sábado, 28 de janeiro de 2012

Para Itana




Recolho os objetos. As lembranças. Os manuscritos. Mas não quero guardá-los. Queimo o que não me pertence. Nada me pertence.

Sou parte de outro pedido, da outra mesa. Sou face de outra conexão.

E preciso ainda ficar atenta para não conceder outras invasões que não sejam da história do amor. Amigo, muita coisa se diz, se faz, se escreve, que não é amor. E no manto dessa construção, muita coisa é amor e destrói, sem qualquer lealdade ou permissão, o que foi tão simplesmente querido. Eu pensava sorrir. Não é tão simples sorrir quando te clamam guerra. Dinheiro, disputa, desejo de derrubar nem é pra vencer, só se proteger do que não te pertence.

Eu sorrio!

É irônico, irritante, provocador. Não pensei nisso, mas descobri que é assim. Agora sei. Não é ingênuo, nem desconhecido mais. E ainda assim, sorrio! Porque sorrir, meu amigo, é o elemento do futuro. É o definidor dos quereres. Um souvenir alienado, pensam. OK. Sei que não e, sem ofensas, sorrio.

São poucas as possibilidades, pareço. É confuso amar, querer, competir, partilhar, descompreender, sucumbir, fechar a porta, não poder sair. Choro ao perceber. Mas para ninguém doo minhas lágrimas. Elas não serão ouro no pote de ninguém. Mudei o paradigma e sou mais dona, até do que não é mesmo meu.

Não era fácil. Não seria fácil. Desafiava inclusive o bom, de tão improvável. Ao mesmo tempo, a tranquilidade e o conflito. Tenho vergonha do que não sou. Tenho orgulho do nosso amor. Mas não finda no amor os textos que lemos hoje em dia. Uma tal mesmice de palavras mesmas, carregando achados mesmos. Um brinquedo para inabilitados em lógica, o amor. Foi por isso que aprendi. Para depois, não sei mais nada. Quebrou-se toda essa infância, só mesmo a lembrança pra me ajudar a dormir hoje


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

a pintura

um dia a poesia grudou no capô do carro branco e pintou de rosa o meu olhar de passagem. foi hoje, no tempo que eu escolhi pra me apaixonar, brilhante mistério de quem quer o dia e a noite no mesmo espaço de cor.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

As mães e o senso comum



Ontem puxei conversa com o meu filho sobre como deveria ser uma mãe. Chamo de uma mãe do senso comum, mas isso é rotulação particular, desconsideremos. Ele se surpreende, mas resolveu ajudar. Ficamos ali conversando, minhas lágrimas, suas interrogações, nossas ideias dando corpo a essa mulher..

1. Vista-se de forma sóbria. Vista-se de uma forma que os outros entendam as responsabilidades que você tem. Vista-se para impor respeito. Vista-se para ser levada a sério. Vista-se de uma forma que traduza o tanto de dinheiro que você é capaz de acumular.

2. Não namore!(sugestão do Vini).. Não namore um amigo da sua filha(eu pensei).

3. Não seja amiga dos amigos da sua filha. Não entenda o que eles falam ou pensam. Nunca admita que eles transam ou usam qualquer substância que entorpeça (os tóxicos, na voz da mãe). Recrimine-os. Reprima-os. Rejeite-os. Seja amiga das mães dos amigos dos seus filhos.

4. O mesmo para seus filhos. Esmague com suas poderosas mãos de mãe qualquer tentativa de expressão deles. A livre expressão liberta, e a liberdade é muito perigosa! E você quer seus filhos longe do perigo, né?! Logo..

5. Não use piercings! Pode gerar confusão.. Mães não se confundem com as outras pessoas.

6. Se a sua tatuagem não é uma borboletinha ou um beija-flor na nuca, nem o nome dos filhos com uma jura de amor eterno, esconda-a! Se são várias - quanto arrependimento! - o item 1 vai ajudar na tarefa.

7. Controle! A casa, a roupa de cama que vai naquela cama, as toalhas dos banheiros, a arrumação do quarto dos filhos, o gosto musical deles, as roupas deles, os sapatos deles, a vocação deles. Tudo deve ser controlado para que permaneça como você idealizou quando era ainda uma criança: uma família feliz!

Os filhos precisam de mãe viva. Mas não Viva! Elas têm que estar disponíveis para prover, alimentar, repor, preservar, cuidar. Elas não precisam amar ou ser felizes por conta própria, por seus próprios prazeres ou afetos. - Mamãe, ame somente a mim - diz o filho.

Com esses 7 passos fui cambaleando até a janela, tentando entender porque é mesmo que eu não consigo percorrê-los sem que me doam os pés e o coração.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

no balão!

E de repente surge uma resposta linda, no meio da minha solidão:
- eu tô aqui, não tô?!




terça-feira, 10 de janeiro de 2012

me diz o que é isso..

Gosto de cair.
No tapete, um amor.
no chão, ao léu.
uma palha, uma fogueira.
gosto do fogo para viver.

Mas aviso que agora sei me levantar! acho jeito, arrumo espaço.
só fico enquanto quero

Gosto de cair. Porque sei levantar. Porque gosto da emoção. Do despreparo. Do recomeço.

Gosto de cair, por isso não uso saltos. Pode ser alto, mas é tudo meu! Sem artefatos, sem esconderijos. Minhas próprias fendas, segredos (secrets) sem contaminação.

No final do dia, naquela madrugada, se a cama nos recebe, não me importo com quem desequilibrou primeiro. Se o quarto nos acolhe, que diferença rede ou cama? Se o amor nos reconhece, quê mais?!

sábado, 7 de janeiro de 2012

companhia

Meu sono, insone, procura por você.

Mas como, se nunca foram vistos juntos?!


terça-feira, 3 de janeiro de 2012


dando mais uma volta nessa espiral, acordei pensando nesse trecho:

o amor engole aos pedaços as trilhas e veias, vigas e areia, do meu coração



Não sou do jeito dos outros. Assim como os outros não são assim tão semelhantes entre si.
Encontrar o espaço para ser-me, podar as agressões sociais, um certo equilíbrio entre a minha expressão e o que supõe o conjunto das ruas.
Minha loteria aposta em números específicos, que consigo identificar quando uso meus próprios argumentos amorosos. Multidões são para show de rock, eu sou uma só, olhando para um só.
E que alegria nesse momento saber quem somos nós!



domingo, 1 de janeiro de 2012

aconteceu

perdendo pessoas para que elas possam achar seu jeito de respirar no mundo. também eu procuro o meu..