domingo, 30 de novembro de 2014

restam mais


Fiz um silêncio grande
E cubro de solidão móveis, rede, roupas, caminhos, cama, janela

Resgato do mundo todo algumas palavras para tentar uma veste que seja minha, que seja eu
Fui andando pelos mundos, cidades, desertos, o dentro, o mar, nas águas
Só as palavras podem o que eu não posso mais sentir..
E a arte, que ajuda a cerzir a alma

Passei de um ano pra outro, mudei os números, e me mudei
Estou-me
Regresso de um mergulho com imagens dos tempos.. uns que vivi, uns que sonhei, uns que quis tanto e não percebi que não aconteceriam a tempo

Não há busca, é mais uma passagem..
Viajo por um olhar, uma descoberta, um destino
Às vezes uma saudade, uma memória
Às vezes só pra sentir de outro modo, em outro lugar, o que sei que está em mim ainda

É também uma contagem, viver.

sábado, 29 de novembro de 2014

sobre



Quando a noite da rua finda pra mim, volto pra casa
volto pra você, nesse inconsciente louco do amor
volto pra você sem que você esteja aqui
volto pra casa, mas sem você
volto pra você e pra casa, sem você

busco pistas que não há
não há você
- são imaginários os recursos que me conduzem até a cama
auxílio do mundo mágico - trato-me de amor tardio
durmo em recuperação, acredito que luzes me recobrem como um lençol protetivo – amanhã recomeço
acredito que minha mãe me protege quando durmo






pra mim, as coisas fantásticas são as mais possíveis

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

o que há de sempre (para Monique)

(Rejane Ayres fotografa)

Pode ser que eu sempre lembre
Já pode, agora.
Pode ser que todos os dias, em algum momento, por algum motivo, sem motivo ‘aparente’, eu lembre.

Pode ser que nunca passe
Já pode, agora.
Que nunca seja indiferente, ou nunca deixe de me emocionar

Se foi parte da minha história, é e vai continuar sendo
Não preciso mais relutar, aos poucos um jeito e um lugar amanhecem

Guardar amor para viver amor
Viver amor para honrar a vida e o amor guardado

terça-feira, 25 de novembro de 2014

véspera já é o dia, num tempo sem ponteiro

Soubesse desenhar, fazia auto retrato
para as pequenas sutilezas que se mudam em mim, e só às vezes reparo.

Hoje voltando já de noite pra casa, uma delas.
Como um balanço, mudei de lugar. Ou de espaço no coração.
Perceber o mínimo que posso estar me modificando, uma pequena porção de mim saindo do lugar, da falta para o pertencimento.
Um arredar de passo, um afastar miúdo na cadeira de balanço.

Só desenhando pra mostrar.

sábado, 22 de novembro de 2014

folhas de sagitário



do sábado, o sol à tranquilidade

tempo ameno, o que chamam de idade, ou vento leve nos galhos e folhas verdes da árvore

dançando

se no peito ainda doi, acolha-se.. e alegra-se, porque peito que doi é peito vivo!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

nas ondas .................. entre o porto da barra e a casa de iemanjá, no rio vermelho


Meu corpo tem cicatrizes bonitas,
sequelas importantes,
do tempo do amor.

Costuras de poesia na pele, como os bordados que tento aprender.
Os fios coloridos, linhas que escolhi, como os filetes de sangue passeando nas minhas veias,
oxigenando-me,
enquanto respiro e sopro para fora o que não me pertence.

É lindo, mas não é meu.

Fiquei gravada pelo tempo, e, depurando os modelos, posso olhar para a alegria,
a vitalidade,
a vontade pulsante,
essas coisas geniais que me encontram quando sinto.. amor.

A melhor transgressão!
Vincular o corpo ao sentimento,
alma voltando pra casa.

Andarilho do meu profundo,
em mergulho éramos abraço,
aos tragos fomos conhecimento,
movimento de esgotar, saciar, e querer, querer.. amor.

Tenho a mim e ele marcado com os dias em que não houve mapa, calendário, roteiro.
Achei recentemente as fotos internas, me reconciliei com as marcas.
Fico feliz por não ser a mesma, sempre a mesma.
O amor me faz bem

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

filme da semana

Bobagem querer falar, se não temos mais palavras.
Se não temos mais palavras.
Não temos mais amor.
De mais, nada; nem ouvir, nem saber, nem querer.

As coisas são deixadas.
E também não há fim.
Não há volta
foram deixadas, assim.

Te perdi para ti.
Com muito silêncio, o tempo se desfez.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

para o filho


Hoje foi um dia surpreendente, como foi a surpresa da sua chegada, seu nascimento, sua existência corporal nesse mundo, como meu filho.

Hoje estivemos juntos a maior parte do dia, partilhando os sorrisos, as ideias, verbalizando os sentimentos, as opiniões. Estivemos juntos em abraços também, nos presentes que fui lembrando e te entregando, todos tão pensados em você. E nos beijos, e penteando os cabelos, ouvindo música, e sonhando..

A casa se avarandou – por dentro e por fora – de luzes coloridas. Recebeu jovens portão a portão, chegada a chegada. Você me disse que queria receber a todos, um por um, abrir a porta para cada um que chegasse. Acho isso um reconhecimento lindo, a importância que tem cada pessoa que você convidou para estar com você na sua casa, no dia do seu aniversário.

Fiz – como já é tradição – um café da manhã especial pra você. Guloseimas, carinho, toques especiais, devoção, velinha acesa, levei a bandeja até o quarto. Depois lembrei e peguei uma sacola com alguns presentes. Depois lembrei e desci pra pegar a medalha do Opáxoró de Oxalá. E assim fui lembrando, e trazendo.. até que chegaram as revistinhas.. Aqui outra conexão se fez nesse dia tão especial. Lemos juntos algumas estórias. Na primeira, o Cebolinha conclui com a sua mãe que a gente faz festa de aniversário por GRATIDÃO aos amigos pela existência deles.. Eu nunca tinha pensado nisso, e é tão verdadeiro pra mim. É lindo entender que o dia mais bonito do nosso ano deve ser pensado para receber e agradar aos amigos, pessoas tão importantes para a nossa manutenção no mundo!

E assim o Vini recebeu os seus aqui em casa, ao menos parte deles. E no mesmo tão importante dia, abriu o ano vivenciando sua autonomia, reivindicando seu espaço, sua vontade, seu jeito de ser ao mundo. Como eu digo, ‘fazendo do seu jeito’! Escolheu o cardápio, as músicas, o filme, a comida, a bebida, as pessoas.. Aprendeu que nem tudo sai como no roteiro, e isso é coisa boa de se aprender.


Foi dormir bem cansado e já tarde. Só amanhã é que vou – tentar – saber que aprendizados teve, se se divertiu, como reflete o dia na sua vida. Já na minha, fico por aqui pensando, matutando, aproveitando o silêncio da madrugada: as luzinhas piscantes que enfeitaram e iluminaram coloridamente nosso casa são como todos os sentimentos que tenho hoje por esse menino, suas construções e execuções, seu mundo interno, o nosso encontro. Sou toda luz e cor por ele, é lindo vê-lo crescer, é forte ser mãe dele, é mágico todo o mistério que somente vislumbro, e que talvez seja só pra ser assim mesmo.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

na calada conversadeira da tarde de quarta


Preciso escrever

Recomendação de busca, de amparo, proteção, como voltar pra casa de jardim e rede.

Como também preciso viajar (sagitariana!), decidi que iria a São Paulo tomar um café amoroso com a Talula e na volta me comprometeria a escrever tous le jours, n’emporte quoi (dúvidas quanto à grafia, não ao sentido, rs)!

No dia 26 de novembro (ô dia lindo!) de 2014 faço 46 anos. Desde - acho - que fiz 40, ou melhor, às vésperas de.., entrei numas que ia morrer. Era um tal de sentir coisas, físicas mesmo, palpitações, tonturas, era um tal de sentir medo.. Levei a constatação da minha morte iminente pra terapia, e lá, naquela sala sagrada de mim, entendi que a ‘certeza’ tinha conexão rápida com o passar do tempo, com a forma como eu me via e me sabia envelhecendo. Fiz 40 e meus amigos sabem que não morri! No sentido clássico. Porque de morte e vida nos fazemos diariamente, entre o amanhecer da esperança e a chegada da nuvem noturna, o esquecimento do sol até o dia seguinte.. e, para os que amam a noite em progressão, a rotação contrária, mesma vontade..

Atualmente somatizo diferente, rs.. eu sonho. Desde que entrei no terreno frutífero do meu ‘inferno astral’ que todos nos meus sonhos adoecem e/ou morrem. É pai, é mãe, sou eu. Do primeiro acordei assustada, mas tão rápido assim, talvez porque esteja mais conectada com a minha essência, percebi que era o tempo de pensar no envelhecimento, no tanto de tempo que eu estava nesse mundo.

Por aí descambei em outros pensamentos, olhando para os símbolos, e para o meu corpo de mulher. As desproporções que ele apresenta, o choque dos números, minha idade, o desconhecimento que sinto ao ser chamada de ‘senhora’, a barriga que nunca mais voltou ajustadinha pro lugar desde que conheci duas delícias da vida: a maternidade e a cerveja (ambas em plurais)!

Vez e outra sacudo da mochila vermelha minhas constatações da mulher que sou: enchi o saco de me depilar (nunca gostei mesmo de arrancar pelos), não vou a salão de ‘beleza’ fazer as unhas (não consigo mais pagar pra entrar em ambiente hostil), as maquiagens estão meio vencidas, as joias são de pano, as bolsas são mochilas, os sapatos não têm saltos.
Acho que a minha vaidade tem como alicerce a minha esquisitice no mundo. Acho que minha auto estima tem mais tesão pela minha letra poética que pela minha bunda.

Aos 44, tatuei ‘velha e louca’ na perna e me dei de presente uma cadeira de balanço, pra envelhecer sorrindo – eu dizia. Aos 45, a mesma palavra ‘velha’ me deixou meio fora do ar e da alegria. Não foram as palavras que me assustaram, mas o sentimento voraz de destruição que elas continham na pronúncia. Ainda me trato.. mas sei que homeopatia e amor ajustam muitos sentimentos dentro de mim.

Pois bem que hoje me preparo mais um pouco, um ano mais, para desaprender as convenções, as trapaças sociais e os corredores dos shoppings. Cada dia mais insubordinada quanto aos trejeitos sugestivos do ‘domínio público’, sigo pelas ruas do Rio Vermelho, acompanhando meu filho crescer, o filho da Dri crescer, minha filha chegar de viagem, meu mundo se aproximar do meu interno.

Quero a sorte de um amor tranquilo. O tempo está depois.