segunda-feira, 28 de setembro de 2015

enquanto isso..








o dia esperando por nós para amanhecer


o tempo sabe, nós jamais voltaremos



sábado, 26 de setembro de 2015

cabelas


Todo dia se reescreve com uma nova história



Meus cabelos crescem. Vermelhos, como é da minha natureza.
São a manifestação mais corporal em mim de que o tempo passa,
que eu me renovo,
me transmuto,
me permito,
me liberto.

Resistem às dores, prolongam os fios.

Enlaço pelos dedos, andando na rua, o pouco que ainda é preciso contar.
Dos tempos que passamos Lua entre bares.
Não explicávamos.
Poesia não explica.

Enquanto perambulo ideias, meus cabelos enrolam os dedos, na força vermelha de me reconstruir.
Fiz o caminho de volta, olhando nos olhos do tempo.
Vou pelas ruas - eu na imaginária - desenhando o que foi e o que virá,
história que é minha com e pela cidade do Salvador.

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Os modelos patinam em uma pista, eu – e tantas – em outras.

sábado, 19 de setembro de 2015

tecitura


A in-dependência da gente

Escrever me ajuda a pensar

E eu tô – quase – sempre precisando de ajuda
– embora nem sempre aparente, ou apareça..

O-que-é-que-eu-quero-ser, pra quem eu quero ser?

Eu, que amava a sua companhia,
ando só pra entender o amor em mim

E cada vez que me despeço da compreensão e rumo pro que há em mim -
corpo lágrima e sol,
Me possibilito mais
Me reconheço mais
(e mais pode ser menos, pode ser qualquer coisa)

Não há amor pra tudo
Nem pra todas as lembranças
Nem pra todos os futuros



Mas prefiro tentar

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

certas histórias que não sei contar mais




Cheiros atordoam.
E me cobrem – também – de silêncio.

Histórias contadas aleatoriamente atordoam também.
Eu não finjo, nem busco detalhes..
apenas as guardo no meu corpo por um tantinho de tempo, para que eu possa e saiba adiante das horas despedir-me.

Tempos me atordoam.
Porque tudo é tempo nessa vida.
Tá sofrendo? Com o tempo esquece.
Tá doendo? Com o tempo passa.
Tempo de chuva, de ressaca, de andar na rua, ir pro baile, pra praça, de ficar em casa, de tomar banho de mar perto do farol.
Tempo não é idade – mas também conta.. – tempo é mais.



Tempo sou eu.


domingo, 13 de setembro de 2015

biografia


Sou uma pessoa que não sai muito de si para confiar na outra. Isso se apresenta na forma de desinteresse pela outra, ou melhor, desinteresso-me que a outra saiba de mim. Minha vida passa a ser irrelevante para a outra, dispensável que ela saiba de mim.. e, ainda que queira num belo dia, pra ser diferente, falar.. me faltam na hora assuntos ou forma de abordar. Assunto rápido, do tipo corriqueiro ou superficialmente banal pra falar em 1º pessoa. (..e como as pessoas geralmente preferem falar que ouvir..)

Acho que isso é des confiança. Será?! Pareço que não confio às outras o meu silêncio, as minhas palavras, os meus assuntos, as minhas ideias, o meu “tesouro” guardado e escondido dentro de mim.

De tempos perdidos em tempos achados, encontro alguém. Alguém em quem confiar, com quem me sinto bem e à vontade pra partilhar. Alguém que quer me escutar, com quem falo e não me sinto sugada, esvaziada; com quem quero estar, não canso no meio do trajeto, embora não seja o objetivo chegar. Geralmente alguém por quem me apaixono, com ou sem sexo. E como se parece com encontros antigos, velhas conhecidas de tempos remotos, vidas remotas..

O que há de tão escondido em mim que não pode ser sabido pelas outras?
O que há de tão secreto?
Porque a outra é tão perigosa?
Porque não confio?
Soberba ou medo?
Proteção?

Qual pedra trinca meu vidro?

Parece mais um esconderijo que lugar consagrado. Parece mais angustiante que vaidade. Aprendi a ficar só. Aprendi o silêncio como seguro. Confiar, só depois de certa observação, e com pistas que me levem ao antigo. Olhar que me diga o improvável. Certa fenda de um mundo para outro.

Tantas rotas, pra tão poucos encontros. Quantidade não será a minha marca.
Sei que do amor sou um lugar, uma sujeita, um trajeto.
e amor pode tudo, até confiar




sexta-feira, 11 de setembro de 2015

recreio


Calhou de te ver, dorso nu, no tempo do intervalo.
Na hora que o juízo sai pra tomar um suco, ressaca de tanta correção.
No tempo que suspendem-se segundos por horas, um breve olhar contamina toda a andança.
Não havia outra reação, só me salvou te amar.


terça-feira, 8 de setembro de 2015

de Salvador a qualquer lugar


Cidade geográfica e amorosa.
Conquista de mapa e sentimento.
Trajetos que são como diários de história de amor.
Lugares que trazem consigo cheiro, tempo e sentido na pele.

Não são lugares neutros. Não somos pessoas neutras. Não há tempo neutro.

Ruas caminhadas em dupla são ruas que contam segredos esquecidos.
A memória que os pés trazem de volta, meses.. anos depois
Penso que não vivo à toa o que vivo e o que já vivi.
Penso que à toa é um tempo também lindo de se viver, na malemolência do amor, aquele que a gente pensa que nunca vai acabar.

Até que nos suspende do mundo.. e acaba!

O mapa (folha de papel) vai pro fogo, símbolo que queima arrastando sentimento.
Trajetos são desviados – depois retomados.
Lugares, evitados – depois retomados.
Ruas.. tantas ruas quanto transeuntes nesse mundo há.



Cidade que retoma sua geografia amorosa. Sou um corpo disposto a andar por aí


sábado, 5 de setembro de 2015

na fogueira




Eu amanheço com o desejo do dia que começa

(- já disse pra não olhar pra esse aparelho que emite imagens retroativas!)

Eu vi.
Eu sou.
Sobrevivo a golpes escrotos, entre a minha imaginação e a realidade dos dias
Fico me perguntado que traçado doido é esse, linha imaginária que dias borda, dias desfaz os enchimentos vermelhos do meu coração
Tudo parece uma grande cura desde então
Quanto então e cura ainda suportarei entre rasgos & remendos?!


Entre o fogo de folhas secas antigas, e o sangue que sai de mim, cavo poesia no túmulo da natureza. Enterro assim as letras modificadas do amor.
Sairá mais sangue, com certeza. Folhas no caminho, talvez. Preciso que continue diferente. Preciso de um mundo novo, redesenhado por mim e a minha fogueira de cinzas, sangue e folhas.

Que algo se processe. Que eu queime junto. Que eu queime sempre.