sábado, 31 de agosto de 2013

"a alma guiará o caminho seco através do molhado"

da peça A Alma Imoral, do livro A Alma Imoral


Achei na memória a lembrança que procurava

Do jeito que busco coisas na mochila vermelha

Aliás, procurei primeiro na sacola, pra depois achar na cabeça!

Não pareceu nada ter voltado ao mesmo lugar, quando fui hoje de novo à mesma peça de meses atrás – eu estava lá de volta, e em outro canto.. – eu de novo, eu outra.. – como descer (ou subir) uma escada em espiral, daquelas antigas e lindas, de mármore e corrimão sendo parte continuada dela, e você-eu olhando a mesma coisa, de outra dimensão, outra altura, outro movimento, outro olhar.. eu-você outro, eu-você de novo

A veste preta, o corpo dito, braços e cabelos em poesia, as palavras vindo, voltando, eu chorava no reencontro que era uma surpresa, um novo espanto

Meus amigos não só me colocam para dormir, não só me vestem.. eles aconchegam o leito, me despem em emoção, providenciam o ingresso, me levam até lá.. porque ando burilando o tempo como posso, e às vezes esvazio-me no meio da rua, e não sei bem onde estava quando aconteceu.. meus amigos me trazem de volta!

De volta, em casa, tento me reorganizar das coisas que perdi, de pessoas a instantes.. o tempo da saudade parece que é isso, uma reorganização de lugares e sentires..

A alma, com toda a sua imoralidade, me chama nua.. estou indo








quarta-feira, 28 de agosto de 2013

nas águas

Na vida, hoje, ando mais leve

Gripada, mas consciente do meu corpo, sem forçar, em equilíbrio mesmo no desajuste da doença..
quase como dizer ‘eu entendo que você fraqueje agora, cuido de ti, tenho paciência, tenho tranquilidade para vivenciar o incômodos e as dores’
depois seguiremos bem
Não questiono a minha imunidade, não entristeço por meu corpo ter debilitado, nem uso a doença pra me estabelecer na auto-piedade, estou bem.

Tenho comido com mais atenção, e sentido vontade de comer menos.
Tenho olhado mais que andado, pois nos dias de hoje, andar me faz parar, o caminho do sem destino, os pequenos abandonamentos de todo dia..
então paro e olho, pra mim, pra calçada, pra árvore, pros lados de cima.

Há mais ou menos 3 semanas comecei a perceber que meu corpo é uma grande referência pra mim, que acho ele bonito, potente, sensual. Vejo isso no espelho do meu banheiro, ainda não consigo perceber no provador da loja, mas vamos lá, talvez eu não esteja ainda entrando nos provadores certos!
Porque foi isso que comecei a reparar: que a minha beleza é distante da que é vendida na loja, da que passa na revista (anti)feminina,
e com outras belezas ela se encontra, festeja, se fortalece, mesmo que não sejam as mesmas que me habitam.
Quando caminho e meu corpo me sustenta, é lindo, é feminino, é vital!

Aprendi desaprendendo algumas coisas bem importantes sobre mim nestes tempos. (essa coisa de amar meu corpo uma delas).
Ajeito meu corpo aninhado no mundo e passo horas e horas nessa caverna de mim.
Arejo a janela, preciso molhar as plantas, e olhar de longe o que amo.

Do tempo que não é meu, sou de ter saudade..
mas vou andando, de tropeço, tombo ou estações perdidas,
na fé que nem uma faca tem, tem meu coração.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

do céu

tenho me deparado com imagens lindas
e verdades doídas

- de cansaço e de esperança, volto a dormir

tenho me deparado com outros estados,
outras nações nas minhas entranhas

- de medo e tristeza, volto a dormir

tenho me deparado com o passo que para no meio da rua, por não saber pra onde
e
por descaso com a pressa do tempo, que eu agora não sei bem se existe, para certos assuntos

meus amigos me colocam para dormir
tratam-me diariamente,
zelo e proteção
estou coberta de saudade,
e sempre que escuto chover na madrugada, penso: quanto mais, ainda?!
sei que não há medida exata pra mim, só repito pra me dar o limite do que um dia finda

volto a dormir

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

lua desgarrada menina

As luas reviram-se, sangram-me cheias, vivam-me à míngua do amor, e reconhecem-me

o tempo da espera, da conduta, do olhar, do tempo
é aquele que a rede balança, vem sono, vai sono, livros, letras, paragens, precipícios.
o tempo do amor, então, é da escala do indizível, amadurece, anoitece, apodrece, amanhece, recomeçafinda.
Morro e nasço. Não sei mais onde começo, onde posso terminar.
Meu tempo enrugando a pele, aumentando a barriga.
E, ainda assim, não consigo apressar, só olhar.

Comovo-me com o que não foi, com o tudo de mim que não expressei.
Sentei-me, datilografei, fiz vida, pernas abertas e sangra-se filha. filha. filho.

Um dia não haverei mais. Como foi com a minha mãe.
Pra hoje, mesa que eu ainda hei de conquistar no bar
e um sonho, porque em tempo real não tem toda essa graça

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

participação especial

segue a lua

quantas delas?

tanta informação aleatória..
no almoço, na copa do trabalho, desfilam na tela umas meninas de biquini associadas ao esporte
- se os homens jogam bola, porque as mulheres precisam estar de biquini com música boba?!
- se conta pra eles o talento com os pés, porque pra elas o talento com o empinamento da bunda?
estranho

eu não quero o seu ruído
prefiro o seu silêncio

terça-feira, 13 de agosto de 2013

o rumo da lua

Genericamente moldada para transparecer falsas impressões.
Assim, és forte, quando não.
O maior abismo é o de dentro, que, por desvio de imagem, faz-se falso do que é.

A mulher mente.
Eu já fui mulher.
Quando homem, menti também.
Mas a linda música no rádio prefere elas.
Eu também.
Sê-la nessa precipício hormonal, seguidora da Lua em seus-nossos-ciclos.

Sou-me ainda, perdida agora que estou.
Pronta pra negar não sei o que, nesse fim de tarde exaustivo de pesares.
Caminho imprestável, estou sem pés, sem alma, sem tesoura, sem desejo.

(ainda bem que existe Marina Lima)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

jeito do tempo

depois desse silêncio
todo esse silêncio
quando vem a calma
vem a paz
vem a taça de vinho
vem a música devagar
vem o tempo do jeito que eu sei o tempo

tenho vontade de dizer:
"meu cheiro tem o cheiro dele dentro"