domingo, 30 de agosto de 2015

peculiaridades do tempo

Passei umas luas fugindo da lua
Com medo do mal que ela me fizesse, do exposto, do sublime precipício do alto
Com medo da sua força, da sua luz, negando assim as minhas.

Agora não fujo mais! Me reconciliei com as minhas luas. Não há só tristeza e silêncio.. há luta, força, coragem, sedução e amor!

A saudade no seu lugar, passado.
Sem tempo para o futuro, e com uma profunda admiração e afeição pelo presente, esse momento.. de olhar a lua e estar-me com ela.
Viva, linda, radiante, cheia e plena.

(Lua Cheia de agosto, sábado, 2015)

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

eu e o infinito delírio chamado desejo

(piora com o álcool)


agora que não tenho mais pra onde voltar
agora que não há lembranças
agora que não há palavra


piso na rua, e desatordoada, sinto o vazio de não ter nada construído
.. e o alívio de não ter nada construído.




sim, o desejo que me delira ainda infinita-se corpo adentro.
minhas marionetas estão descontroladas
é corda linha pau arame dor sorriso e vontade pra tudo que é lado, cima e baixo.

não, não prendo nem destruo.
a-prendo o doce contorno do meu corpo,
e a dura fatura da separação.


Quero junto, eu e a outra, eu.

domingo, 16 de agosto de 2015

um silêncio




Um tempo mudo, mas presente
No silêncio, o amor se mostra em intenção
Muitxs me querem, cuidam, protegem
Mas tem uma hora que o amor é tão escroto que só tem uma cara
Uma anamnese, uma patologia, um pelo, um gosto, um cheiro, um erro, uma culpa
A gente podia não beber e ter tanta sanidade que nada doesse além dos ossos (que não escutam as explicações racionais e gemem)
E a gente fica pensando que tá velhx e por isso o corpo dói
Mas é um trânsito de interesses.. e o corpo ajuda a alma a dilatar a dor

Saluba Nanã BurukE


sábado, 15 de agosto de 2015

provisões para uma longa viagem


inadaptações:
para as dores que chegam ao meu corpo,
prescrevem-me
expirações longas - os suspiros
e escrever

sigo as recomendações
a consulta são palavras
um abraço no final
um carinho para o corpo cansado

estou a cada passo entre o ar e a letra
sigo!

terça-feira, 11 de agosto de 2015

ventos fortes anunciam: deixar ir é ir-se!



O tempo cai lá fora
Lá.
Venta muito no Rio Vermelho, e eu lembro com reverência da força da Deusa Iansã. Do tudo de vermelho que eu respiro dela, subjetivamente. Dos raios e trovões que ela invoca. Dos ventos.
Digo que tenho medo de vento forte assim. Essa ordem de comando vinda dos céus, quebrando as árvores do meu ancoradouro, destruindo a estabilidade dos espaços. Desafiando, destruindo, derrubando.
De outro modo, daqui do meu castelo prestes a ruir, por um a dois copos a menos de fragilidade e tristeza a poderosa Mulher dança a transformação no meu tablado improvisado: tudo que nasce, morre! Dedicar vida à morte.. ela não dança assim!
Há muito o amor se foi. Eu me perco em passados, odes ao passado. O vento irrita-se com a insistência, deixar partir também é amar.

Uma noite sonhei que, do céu, atravessava-se entre mim e o meu mundo algo de muito forte.. e destruía tudo. Sobravam eu e uma criança. Sem impérios, paredes ou proteções. Eu segurava a criança e, aliviada, saía andando com ela pelo novo mundo, sem o peso do tempo ou das conquistas passadas.

Iansã guie esse desmonte! Estou entregue à sua força (mesmo com medo, rs).