quarta-feira, 29 de abril de 2015

lança chamas vermelho-quarta-feira



É verdade, hoje – justo hoje, logo hoje, é claro que é quarta-feira – lembrei da origem do Sorriso. Mas não consigo encontrar entre as palavras, o momento. Talvez seja uma coisa pra só ser sentida, coisa de memória fluida, não tem marco, não tem tempo.
Junto retalhinhos puídos e construo nada, para nada meu esforço pueril. Um momento de falar, uma lembrança de palavra, um correio eletrônico perdido, uma foto antiga que não mostra mais a verdade, saber que estávamos ontem tão perto (quem sabe você nem foi..)
Nunca mais tive tempo pra esses experimentos sofridos. Nunca mais quis saber como hoje. É busca como no meio da água de um papel que há muito ali foi lançado. É busca como de uma imagem que aconteceu anos atrás. É busca como para abraçar uma coisa que não se toca. É busca louca, é busca que não encontra, essa minha busca por ti.
Um gole. Não há mais palavras, nem as que diziam amor, nem as que cuspiam raiva cega. Um gole. Os retalhinhos puídos estragam meu esquecimento hoje. Um gole. Ainda quero olhar praquela foto e não me arranhar. Garganta seca. Vou conseguir. Saudade.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

perto demais

Essa noite ninguém dormiu bem

O coração só lembrava de antigas histórias para contar
Eram histórias bonitas, alegres, mas então não sabíamos mais ficar no presente.

Foi-se o tempo para as caixas, a memória para as cores, o amor para as letras.
Habitantes de mundos perdidos pulavam de dentro de nós.
Querendo espaço. Querendo guerra. Querendo amar.

Cá estamos nessa fúria dispersa, tentando amansar as feras, segurar-se em pernas, no meio de toda água violenta.
(há que ser violenta para arrastar o tempo e a lama)


Até que voltemos para os nossos lugares, o agora,
ninguém dorme bem nessa cidade.

sábado, 18 de abril de 2015

silêncio do dia


No rumo da prosa, já vivo uns tempos sem você entre os meus assuntos públicos ou referenciais.
Menos que proibido, é que não há inserção necessária:
deixamos de ser, mesmo que meu coração ainda se confunda com isso.

Sem querer ser apressada ou negligente, venho tentando apreender outras formas de apreciar o tempo e seus passares.
Uma nova amiga me disse que o que é pra ser feito, que se faça logo!
O mesmo pro que é pra ser vivido, ou o que é pra ser deixado.
E ela estala os dedos pra me explicar – pacientemente – o que quer dizer “logo!”.

Músicas salvam, como no meu sentir faz toda arte.
E agora mesmo eu tava pensando numa do Chico..
“Hoje o inimigo veio me espreitar
/Armou tocaia lá na curva do rio
/Trouxe um porrete a mó de me quebrar
/Mas eu não quebro porque sou macio, viu”..


Tá tudo certo no que vivo, queria só que fosse mais ágil essa passagem,
derramamento da nossa história nas calçadas para o esquecimento.
Talvez o fogo prum escape mais rápido desse perdido combustível..
(nem as recordações aguentam mais serem e não serem mais)

Não monto mais espera, não desejo mais acasos, não esbarro mais com peças nossas..
elas se retiraram do espaço onde vivo no mundo.
Meu perfeito é desfigurado e isso me acalma para continuar vivendo num planeta tão cheio de intervenções que não entendo.
Quero amar, mas ainda oscilo em completar o esboço.
Sugiro ajuda, peço auxílio à música, às proteções que sei que tenho,
que façam por mim o que eu quero mas ainda não sei direito como fazer.


Ou demoro a aprender ou a minha viagem é essa mesmo de nunca saber..



quinta-feira, 16 de abril de 2015

adiante


Amanheceu.







Às 19h30 mais um vislumbre de que resolvíamos assuntos entre o céu e a terra.
Um fim continuado, em trajes de despedida.
Não mais.

Ao mesmo tempo, foi-se – e vem.
Porque somos o perdido – e eu prestes a achar.

Essa página, rasgada, amassada, chorada, sofrida, mutilada.. que diz, sussurrando calma, “não sou mais”.
Fui o amor.
E o amor é aquele instinto lindo que mata.
Ou o bicho afetuoso que engole aos pedaços.
Nele é mais à pele a conjugação da vida-morte-vida.

O amor faz tudo isso. Se paro no caminho, só sei uma parte.
Agora que não posso mais olhar pra trás, que alívio.
Liberdade de só ter à frente, o adiante.
Meu prosseguir tem seta destinada à vida!


terça-feira, 14 de abril de 2015

rotina


De manhã tomo café. E algo no ar está diferente. Desde ontem.
Estou parada, mas sei que há movimento.
Em mim se processa o passado, o tempo, a saudade, o medo, a beleza, o silêncio, o amor.

Ontem não deu pra fazer mercado. Voltei pra casa e fiquei parada, escutando o mundo que me chegava por sensações.
Li coisa ou outra, senti o tempo nas horas que avançavam, madrugada.

Vou guardar as caixas, as cores dentro das caixas, as letras dentro das cores.
Guardar não é esquecer, mas acomodar longe do tumulto, descansar.. não preciso mais correr, não preciso mais chorar.

No seu tempo, precioso em compreensões, o corpo volta a respirar.
Sente o ar vibrando, sente a potência da vida.

À noite eu sinto fome. Algo no ar me dispersa.
Acho que são os pensamentos reforçando tudo o que eu não sei, tanta coisa assim.

Um banho, uma reza, um cheiro.. a vida segue, dentro de mim também.


terça-feira, 7 de abril de 2015

parte que(m) não tem tempo


O tempo do mato, dentro de mim.


Por 5 dias eu saí de casa e da cidade onde moro e fui pra outro lugar. Um lugar fora do tempo dessas ruas que hoje voltei a caminhar. Verdes e mulheres ao meu lado, em rodas de conversa, em respiração e beleza. Eu fui porque era parte do meu caminho, e agora fico aqui em silêncio pra sentir em que mundo resolvo voltar.



Caminhamos pelas terras pra encontrar água, de força e beleza, águas d’Oxum! Seguimos o fogo até onde a lua cresceu, cheia. Beirávamos os ventos, nas plantas, nas árvores, nos pensamentos.

No caminho ouvi uma história da cobra quando muda a pele. E vi a pele deixada no alto, entre as telhas. Eu só escutava, com a mesma naturalidade de quem contava e de quem perguntava.. o tempo das cobras mudarem, “um indicativo de que elas estão em processo de crescimento e renovação”..

Ontem minha pele começou a estremecer: vermelha, irritadiça, rugosa, queimando na superfície.. Lembrei do couro esticado no alto. Pra onde vou até que esteja apta para voltar?! Que profundeza quero mais pra mim? Que pele me resta viver?

São dessas coisas que eu tenho saudade e não tem remédio que alivie.. há que se viver e se perder, cura de dentro, poder pra dentro..
no corpo, uma febre, rascunhos do passado, muita água, e música.. deixar-se o tempo à beira, no portão de entrada, e seguir sem ele, sem precisão.

Desconheço meu poder nesse emaranhado de sensações, agora só quero quietude.
- pra dentro de novo, Silvana.






quarta-feira, 1 de abril de 2015

3ª noite


A gente sonha e o tempo volta.
Então a gente vibra e pensa que tá tudo bem

A gente segue.. e hoje eu sigo sem arrastar corrente

Sorrio no meio do mundo, no meio da rua
porque sentir saudade leve é se apropriar da minha história, sem auto piedade, sem calúnia, sem estigma

Agora vou pro mato sem ser fuga.
Sou ativa e participo do conto da minha vida, uma crônica revolucionária!

Quando sonho assim, paz em progressão, sei que há outros níveis que sucessivamente se harmonizarão..
A gente deu o que podia,
e poesia embeleza o mundo!

Num dia de sol e esperança,
escuto Chico porque saudade tem trilha sonora na agulha da radiola, amor

Sou a emoção comunicada em silêncio, um sonho, mais um sonho.. a paz progride na quarta-feira