sexta-feira, 25 de julho de 2014

para o tempo, desaprender.


Passa o tempo e eu reparo, quando paro, o quanto ainda tenho que desaprender.

Passo um tempo deitada no barco, à deriva, olhos fechados, sem querer o horizonte.
Vivendo como se não quisesse.
Resistindo na inércia.

Rearrumo sentimentos e uns há que ainda não encontrei caixinha adequada para deixá-los.
Estão dependurados, entre o coração e a memória.
Meu varal de amor roto.

Visito as verdades e enquanto subo a ladeira, reparo nas variedades, muitas delas são equívocos de interpretação, esqueço.
Noutro dia já estou descendo, e aí são as mentiras que me dão volta. Como são doces as mentiras que amamos.

Ontem descobri que há tempos a poesia corre solta lá em casa.
As paredes conversam em soneto; as portas, em melodia.
Na cozinha, magia e encantamento de quem tempera e prova a vida por prazer.
Nos quartos dormem os sonhos, transam os corpos, palavras na pele, no azulejo
e no chão, a dança.

O jardim é contente de passarinho e borboleta.
De verde, vermelho, azul.
De pitanga, jabuticaba, pimenta, cidreira.






Tem rede pra balançar sorriso e o choro que vem das dores.
Embalamos com carinho o que precisa ser vivido, nas modalidades olho no olho, abraço e papo reto.
Aceitamos outras interpretações, mas precisa ter coração no cartão de visitas.

Muito a desaprender.
Pra um dia ser leve, não mais ferir-me o que pensa e fala fora de mim.
Continuar amando quem for do meu desejo amar, e deitar ao tempo com naturalidade o que não é mais.

Naquele dia, não era o mundo que esquecia de mim, era a tristeza que não deixava de lembrar.
Hoje, deito no mesmo lugar e posso observar os múltiplos alheios.
Sentir me deixa apta para viver.
E quanto mais vivo, mais percebo o quanto mais há para
desaprender.

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