terça-feira, 30 de agosto de 2016

A Fisgada


Tento me lembrar onde eu estava nos últimos 25 anos.
Na maior parte do tempo, fugindo.
Me ausentando para que os lugares e pessoas que pelejavam pra me enquadrar, dominar, sequer me vissem.
Me tornava invisível com um dispositivo natural, entre bruxaria e sobrevivência.

Meu luto agora é por tudo e todas que perdi, que não vi, não toquei, não amei, ao escolher - inconscientemente (?) - a invisibilidade.
Algumas conexões me salvaram, de pessoas, de recantos.
Por instinto, escolhia ou me deixava aproximar, me deixava ser vista por essas.
Com o restante, a postura era de defesa.

Confiança é sentimento que geralmente sinto onde aplicar, como tocar.
Sim, nem sempre o lugar ou a intenção estavam certas, mas também não estavam erradas, no momento em que se fizeram.
Só não havia energia ilimitada que acompanhasse o Tempo.
Faltou, quem sabe, Amor para seguir.

Me intrigo porque, nesse lapso de tempo que escolho recordar, estive em coisas de profunda conexão, como gestar e parir filhas e filho.
E, em seguida, pular nesse buraco profundo, águas profundas, que é a co-criação destas seres.
Talvez porque pra mim não representasse perigo, fosse como uma continuidade.
Não tenho ganas de mostrar como é, me alegro mais em acompanhar os jeitos, novas formas de Ser e Amar.
Sim, sempre faltará e sobrará.
Se não fui superprotetora, deveria ter sido 'naquela' situação.
Se fui ausente, deveria ter me importado mais com o que os meus inimigos faziam.

Tenho inimigos.
E agora devo enfrentá-los.
Sei que sou boa em fugir, e em profundidades.


Procuro ajuda para ficar, e, de frente, brincar também no raso.



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