segunda-feira, 2 de março de 2015

Ciranda

(com Ana e Lucas)

São 46 anos que não se contam como degraus

É mais uma escada rolante, o tempo enrolando o tempo, o tempo comendo os degraus e devolvendo outros, o amor engolindo aos pedaços e urgindo que outra se faça, outra apareça

Não lembro o dia certo que caí. Também não foi uma queda só. Mas olho agora e sei – só de olhar – que não estou mais lá. A presença dos meus passos, indo e vindo pelo Rio Vermelho, qualquer rio, qualquer cor, sou eu: presente.

Uma presença feminina, afirmativa, altiva, doce, descuidada no parecer, ligada no ser. Penso em parecer cada vez menos, porque aí afasto quem liga para as a-parências, quem se importa com a roupa, o pelo, a maquiagem, o preço. Fui ali em outro lugar, fui fazer outra coisa, entre outras nada

Choveu muito e tanta água me ajudou a ver de novo meu corpo. Não aquele que a gente vê quando passa na rua, na praia, na ofensa, na vitrine. O meu corpo, aquele que me levanta da cama, me dança, me banha, me veste, me contempla no espelho. Meu corpo potente, viril, vivo!

Visto nua uma das roupas, vou pra rua, que agora cheiro e rastreio o meu tempo e meu lugar. Pulo os degraus, esculhambo a escada; nem é de propósito, mas não dá pra ser diferente



Nenhum comentário:

Postar um comentário