sábado, 27 de março de 2010

Pode vir, pode chegar


o amor, esse bicho estranho e dolorido, molinho quando domesticado, vermelho quando por perto,

o amor, em mim, é feito em detalhes.

quarta-feira, 24 de março de 2010

o dia em que eu virei a roupa pelo avesso para me vestir melhor



estou lendo Os Perigosos - Autobiografias & AIDS, de Marcelo Secron Bessa, com uma capa rosa choque, uma contra capa verde limão, e a gravura de uma pessoa de túnica andando numa linha tênue, a famosa corda bamba.

comecei - embora tenha comprado no dia anterior - no dia em que eu virei a roupa pelo avesso para me vestir melhor.

no mesmo dia, eu e a minha joaninha andante não-sei-ainda-porquê quase fomos a uma capotada, chegamos bem perto, eu sentindo aquela sensação de 'lá vamos nós outra vez em queda livre'. ela se feriu mas me protegeu bem. teve de ser rebocada, eu também..

e já pra terminar, uma carta: A DOR. deixe ela entrar na sua vida, e passar através de você.

sexta-feira, 19 de março de 2010


é tão triste, tão difícil, tão doloroso que passamos meses e meses só olhando o fim, despedindo-nos

quarta-feira, 17 de março de 2010


O meu amor morreu.
Já teve vários nomes,
vários cheiros,
várias idades.
Mas o maior fascínio em todos eles era sempre o mesmo. todos possuíam o meu amor.
Enfeitados dele, eram brilhantes, alegres, embriagadores.

Por minha causa, amanheciam com mais sorte e num impulso vital, sentiam-se inexplicavelmente mais felizes. Não sabiam, nunca souberam - pois eu nunca disse - mas era o meu amor. a razão. ou melhor, a emoção.

Também não lhes tirei nada. Nada me deram de perto. À distância, inspiração. Não tinham culpa, eu afastava.

Agora, de novo, volto ao normal.

Aos 41, aos 19, aos 27, fui fazendo silêncio sem tocá-los. E assim, sem que entendessem tal oferenda, partiam.

O meu amor morreu.

domingo, 14 de março de 2010



Construir não é fácil.

Eu, que sempre fiz tudo meio sem querer, nunca tinha me dado conta. Por muitos 40 anos as dificuldades se esgueiravam de mim. Árduo era sentir. As pedreiras sólidas e físicas se afastavam pra que eu passasse. Eu não as via.

Agora cada pedra cai forte nas minhas mãos. Ombros, costas, cabeça, ventre. Parece que cada palavra virou um tijolo. As palavras que só doíam nos meus olhos agora pesam em todo o corpo físico.

Tomando café nessa cozinha, fico pensando-sonhando porque não posso simplesmente ter uma casinha como a da xícara inglesa à minha frente. Só quero do mundo sorrir em paz. E aí me deparo que tudo precisa ser construído para existir, acabou-se a mágica solução. E construir é lento, cansativo, dolorido.

Não sou construtora, não é da minha natureza. Sou contemplativa. Ou seja, estou forçando o que em mim não é natural.

Cada micro etapa concluída me veste de contentamento e alívio. Aí suspiro, descanso, me orgulho, sorrio. Tomo um banho pra limpar todo o suor da tarefa e o medo, tomo uma cerveja como um troféu gelado de estar minimamente me reinventando.

Se olhar muito adiante, tenho vertigem e me atrapalha o desânimo pelo medo mesmo. Sei que foi minúsculo o que fiz, a ação.. mas o substantivo é que é minha palavra, e transmutá-lo em verbo é um passo a passo que, ainda que seja caminhado assim como estou, de-va-gar-e-sem-pre, me deixou mais viva pela descoberta.

Não sei sinceramente ainda se vale a pena, estou testando.. Como não conseguia mesmo ficar no mesmo lugar de sempre e de antes, é essa a tentativa mais próxima!

sexta-feira, 12 de março de 2010

voltando

o normal é habitável.
difícil é sonhar nele..

quarta-feira, 10 de março de 2010

Uma roupa exausta sendo despida repetidas vezes até a nudez
E como demora ficar só.
O começo é quando se morre, eu preciso dizer - mesmo que não saiba - tudo o que sinto.
Depois vem ser criança em qualquer idade.
Adolescer ao se apaixonar depois dos 40.
E ficar assim, até não conseguir mais fugir de si mesma. Escapar da construção de uma vida, tropeçar na grama e cair sem pretexto no buraco.
De lá, quebrar paredes, ausentar-se num passo lento, ter vergonha e usar maquiagem para tentar ser de verdade.