sexta-feira, 23 de março de 2018
sim, eu
Exercício de olhar.
Agora.
Olhar a chuva, respirar com ela
Ouvir a água, imaginar o chão.
Fluxos se alternam, como a mobília céu acima, que daqui só se ouve o arrastar.
Meu presente sou eu.
Habito minha rede, e meu corpo.
Casa que pede chapéu, proteção, mas também palpita nudez
janela sem cortina
peitos, pernas
Exercício de se tocar
se sentir, se aprofundar, se conhecer, se ser.
Re-construir sexualidades
meu corpo no meu corpo
eu e eu
domingo, 11 de março de 2018
(estagnação)
(pedra do Matutu)
Limbo é um substantivo masculino com origem no latim limbus e que significa margem, beira, borda, orla.
No âmbito da astronomia, limbo é a parte exterior de um corpo celeste, cuja margem é visível, como por exemplo: limbo do Sol ou da Lua. Na botânica, o limbo é a parte alargada de uma folha ou do segmento do cálice.
Em sentido figurado, limbo significa um lugar onde são deixadas coisas sem valor e que são esquecidas.
Eu
Faltou-me eixo, perceber a importância de um leme. Precisava estudar, não estudei. Precisava escrever, com dedicação, não me dediquei. Dos 20 aos 30, me debati num emprego que me permitia sobrevivência, e criei filha. Me perdi no meu umbigo, limpando também o umbigo dela. Eu tinha tempo que sobrava, mas estava presa na lamentação do que faltava, do que eu gastava para sobreviver. Era ser eu, ou ser o que se espera da mulher socialmente. Guardava em baú trancado quem eu era, até esquecendo; e desempenhava - mal, eu penso - a protótipa. Isso me consumia tal energia que penso ter sido por isso que eu não enxergava as outras possibilidades. Não estudei. Pouco importa talento, inspiração, sem dedicação.
Dos 30 aos 40 eu sufocava mais. E criava filho, e filha. Nunca tive filhas para me ocupar ou beneficiar, atendi a chamados. Não eram concebidas como véu, mas como cortinas abertas. Nessa década o símbolo mais forte da prisão pessoal era o casamento; eu me tratava - e consumia parte grande da minha energia - da solidão e estagnação a dois.
Foram nessas duas décadas que tive reprimida (por mim!), enrijecida, compactada, minha ligação com as letras, do estudo à escrita, da escrita ao estudo.
(olhar da Nathália Miranda - @nathaliamirandafotografiarte)
quinta-feira, 1 de março de 2018
Amor fisiológica Amor
O amor desajusta pupilas
Acelera coração
Saltita pernas
Esquenta as coxas
Inunda a buceta
Cozinho com esses temperos pelo corpo
.. e olha que ainda nem te toquei
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
pois..
...
mas também nem sei pra que essa agonia, fixação.
não sou de precisar, mas de querer.
é o precisar que faz urgência,
o querer é o que acontece.
...
se eu soubesse, te desenhava.
...
o amor agradece quem sabe agradecer ao amor.
mantenha-se (conectada) e honre o que te faz estar aqui.
agradeça, mais que às pessoas, ao amor.
domingo, 4 de fevereiro de 2018
diluição
ler poesia e encher a cara
de água
pra curar dor de amor perdido
e da falta que faz
água cura mais que homeopatia
mais que outro amor
água também pra deixar sair
chorar
já do Tempo não sei
nem fatia nem o bolo todo
terça-feira, 9 de janeiro de 2018
49
Aos 49.
ando, de novo, procurando me entender.
Isso é todo dia, todo dia, todo dia.. debates internos que às vezes escapolem em uma ou outra frase, que nem sempre tenho paciência ou espaço pra desenvolver.
A história da pessoa velha.
Precisamente, da mulher velha.
Envelhecer como um defeito, uma piada.
Vou aprendendo mais coisas sobre mim à medida que o tempo me acompanha, estou décadas mais em paz com meu corpo, meus vícios, meus gostos.
Mas tenho que me preparar para as chacotas, para o “elogio” de que não aparento a idade que tenho, para a invisibilização que é ser velha nessa sociedade.
Não gosto que me chamem de 'tia' e não pelo meu nome. Acho que perco a minha identidade, e para a outra, o outro, passo a ser uma autoridade, coisa que não tenho interesse em ser. Prefiro ouvir meu nome na tua voz, na tua boca, prefiro que questione o que falo, que brinque comigo, que a gente estabeleça um diálogo.
“Você não quer é parecer velha”. Tô nem aí pra isso.
A barriga exposta num biquini alto chamou a atenção do meu irmão, mais novo que eu, e igualmente barrigudo (apesar de sem histórico de 3 gestações).
Ele fez piada.
Naturalizar o corpo de uma mulher é o que me instiga, além de usar o biquini que eu escolhi!
Meu sobrinho dois anos atrás brincou que eu era mais cabeluda que ele. Ele tem uma barba bonita, muitos pelos nas pernas, nem de longe eu tenho no corpo tantos cabelos quanto ele.
Mas eu não me depilo, e, para observar isso, a boa e velha piada.
Naturalizar o corpo de uma mulher é o que me instiga, além de curtir meus pelos!
Caminho meu caminho.
Não é na contramão, nem na dianteira, é o caminho que me parece compatível com quem sou, com meu cheiro, minha roupa, meu formato e meu gozo.
Um caminho de ondas, de águas, mas que também é pisado com inteireza, pra que o chão sinta e perceba que eu faço parte dele.
Sou do amor, mas não preciso explicar pra ninguém. Eu sei.
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
sobre nós
quando não pode ser você
e não pode ser eu
depois que muito tempo já passou
e eu nem lembro mais o que era, como você era pra mim
eu nem lembro mais quem eu era
volto a subir escadas
e me surpreendo que os degraus estivessem sempre ali
eu fiquei parada, estagnada nesse amor perdido
não imaginava poder voltar a subir
não imaginava sequer que havia degrau
me desconforto em tonturas só por imaginar
é bom
é perigoso
nunca tive medo do perigo (amar)
não é nada
não é meu
nem pra mim
você
brinquei muito de ser platônica
alguém disse que eu era
não era - estava apaixonada, só isso
amar, no tudo é importante
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