quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

a resposta é não


A escrita tenta libertar
Lembrar lembrar lembrar
Escrever escrever escrever

A memória vive se batendo no cômodo
Me instiga a reagir, me leva ao passado, me resigna, me dilui, me distrai
Acho que ela também não sabe o rumo a qual pertencer – como eu

Quero o passado no passado, assim como o blusão velho que era da minha mãe. Sei que era dela, sei que ela o vestia, se parece com ela ainda, mas não vai trazê-la de volta. Não vai me reinstalar num mundo com mãe. Saber disso me faz entender o passado no passado.

Às vezes a memória me empurra no precipício. Não sei o que ela quer, não sei do que precisa, mas sinto suas mãos fortes – mais fortes que as minhas para reagir – me jogando. O precipício é pra frente, mas com as lembranças boas vestindo caveiras de saudade.

O que faço? Escrevo escrevo escrevo

Há outros rituais. Esse é só o mais antigo em mim. Esse é puro, do tempo de um diário rosa no quarto da menina. Nele entendo a queda, e porque não consegui evitar o golpe. Nele faço carinho no corpo cansado que me pede pra eu não me ausentar de novo. Nele, e em todos os outros, procedo devagar o espalhe do olhar curador por mim.

Hoje teve unhas vermelhas, ruas nas ruas, afago de gente bonita, cerveja gelada no copo. Ao ser empurrada, larguei tudo e fui. Podia ter me protegido, mas ainda não faço isso sempre bem. Despenquei na água mas o grito não soube sair. (essa mania de não querer incomodar, esse orgulho de não querer ser humana).

Como nos castigos antigos, reescrevo a mesma palavra, vezes & vezes. Levanto, volto. Faço alfazema, viro do avesso o sentimento.
a resposta, anotada na agenda no começo do ano pra que eu memorize e viva, é não

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