sexta-feira, 28 de setembro de 2018

é..


Fome de quê?
Na mesma barriga, minha, um útero recém afirmado e cuidado com amor,
uma sensação de estar preenchida e ter fome de algo que eu não sei o quê.

Fome e saciedade juntas? É.
E a cabeça se desconcerta para entender, processar.
O coração palpita, se acalmando com óleos essenciais
e a minha mão em cuidado e massagem carinhosa.

Tudo minha. Tudo eu.









segunda-feira, 23 de julho de 2018

um bem



Quero oxigênio para as minhas histórias de amor
Fôlego, parar no alto, gemer, suspirar, gozar
Saltar as letras pra escrever desejo. Vestir-me em amor bordado.
Passear.
Rever encantamentos do mundo. Ser doce, ser sincera, me apaixonada.


Dormir, acordar, dormir, acordar.
Uma gangorra para aproximar dos mundos.
Viagens marítimas, viagens astrais.
Invento segredos de mim. Sei, e não conto, tenho medo de que descubro.
Eu plantei esse sorriso.
Espero a colheita, espero, observo, sinto que é tempo.
Abaixar na terra e colher amor.


Aceito chamados para a rua e para as casas.
Quando saio, é de mim, levando pra passear meu silêncio.
Aceito agora beijo, abraço e alegria no corpo.
Tá no Mapa, aceito convites.
Julho é semi-agosto, quase lá.
Participo de cirandas, requebrando desconhecida.
Agora que já sei andar sozinha, quero companhia.


Eu durmo sobre o teu corpo antes dele chegar.
Eu nem sei se ele vai chegar.
Às vezes tenho certeza.. que sim.. que não.
Eu sonho inquieta esta noite.
E quero descobrir quem é você, quem é você na minha vida.
Aquieta-te.
Inquieta-te.
Mas a mim, somente a mim


Não há esquecimento se eu estou presente em mim.
Lembro de quem sou, do que gosto, de quem gosto.
Lembro de sorrir e agradecer.
Lembro que a vida tem gosto bom, e que sonhar gostos novos também é muito bom.
Sonho.
Tempos atrás eu só acreditava que houvesse o perdido, que ninguém mais havia sido inventado.
Era a escassez, a prisão no sofrimento.
Vejo hoje cores, formatos, ritmos.
Sei o que quero. Sei querer.

domingo, 15 de julho de 2018

ondas, marés, brisas


Domingo de sol!


Há tempo para o amor.
Há vontade.
A escrita diz assim.
Meu corpo também, quando encontra o seu, e quando encontra o de outras pessoas.
Para o seu, fui chamada, pelas águas.
Para os outros, sempre há uma alegria, pois falo e penso aqui nos corpos que amo.
Grande família, tribo, que se re-encontra e aumenta cada dia.
De onde eu posso sair sempre que queira, para onde eu posso voltar, com saúde, pros cuidados, pra cuidar.

domingo, 10 de junho de 2018

adiante (não há futuro)


tenho encontrado lugar pra ti, em parte discreta do instante, na estante próxima, mas não muito mexida.
tenho me mexido sem você

tenho olhado pra você, não tão perto, pensamento, e visto alguém com quem vivi o amor, deliciosamente.
entendi o que foi

não sendo mais, já não me faz tanta falta, nem mágoa, ou saudade.
faço por mim coisas bonitas
encantamento nas águas pra vida ser doce de volta, quero re-aprender a do-ser.

quando sei que o amor anoiteceu e não volta a ser manhã, sou dia.
ainda há outros cortes, porque antes havia outras carnes
e tudo o que toca no que já foi ferida mina

mas amores saram amores
dentro de mim o remédio, junto de mim o abraço
como se só agora, diante de tantas voltas, eu pudesse
amar é a colheita

(foto: Nathalia Miranda)



quarta-feira, 9 de maio de 2018

shiruvana


Lembro de mim aos 18 anos, não me importava com o amor (casal). 1986 eu pensava em movimento estudantil, não ligava pra virgindade (nem pra não virgindade), não fumava maconha, bebia cerveja quando tinha dinheiro (poucas ocasiões). Não vivia ou não enxergava uma realidade que parece que ainda era vigente à época, a de que moças deviam casar.

Eu não pensava em casar. Fazia faculdade, ia fazer a Revolução, casar eu não ia.

Passou um tempo e eu me apaixonei. Paixão não é amor, Sagitário tem paixão no altar dos desejos, pega a gente pelo pé, mãos, sexos, poesia, intensidade, finalidade. Eu não ia casar nem pensava no amanhã, mas estava apaixonada e tudo era isso!

O amor dá sinais que é bom parar, ou não seguir por ali, dar a volta, recalcular, desistir do percurso quando o percurso não é bom.
O amor ajuda, ensina. Mas eu não sou chegada a entender esses sinais de prudência, acho que nasci paixão com ascendente em paixão.

2018. Eu casei. Destoei do vestido de noiva, papel, cerimônia. Caí nas ciladas menos óbvias, cipós sociais que nos enlaçam, sem a beleza das árvores da Aline.
Depois separei pra caminhar de volta, fazer o caminho de volta pra mim. Tantas bobagens que eu fiz ou vivi, o amor avisa, eu não banquei escutar o que eu ouvia.

De longe se vê melhor. De fora se entende melhor.
Aos 49 já me importo com o amor, mas a paixão continua sendo a melhor estação das cores. Escuto e vejo tantas ciladas afetivas que uma quarta-feira só não dá conta.

Comecei a escrever pra tentar me entender nesse emaranhado de sugestões que são oferecidas pra hoje na busca do amor, da paixão, do encontro, da junção, companhia, diversão, solidão..
Não sei do meu lugar ainda, talvez não ligue, como aos 18..



















terça-feira, 1 de maio de 2018

quem fica é quem sabe


Quem fica é quem sabe

Da importância de olhar e reconhecer. Eu via o outro como o ser a quem amar, devotar poesia. Há quem se dedique a cozinhar, meu artifício é a palavra. Eu achava que encontrar alguém para amar era pra todo o amor que eu sentia, era pra todas as horas, todos os pensamentos. Eu me sufocava do outro em mim, saco plástico no rosto que eu respirava seca sem ele. Eu era o amor que eu sentia pelo outro.
Mas sim, eu dizia tudo isso em silêncio. Eu dedicava a maior preciosidade, o silêncio, ao amor. Meu coração trinava, mas só eu ouvia aquela cantiga. Eu sabia e pra mim era assim.

Eu fui embora algumas vezes, noutras eles foram. Não lembro de ter pedido ninguém pra ficar, o silêncio inaudível do meu coração vibrando. Quem não ouve o que eu não falo não sabe de mim.

Da importância do tempo. Estou sozinha a noites suficientes pra hoje, de dia, plena luz solar, descobrir o quão importante pra mim foi o amor perdido. De saber a importância daquele cruzar de caminho, cama, bar. Naquela presença, eu soube de mim coisas que eu nunca pude saber. Eu pensava que ele era o caminho – não – ele era o veículo, o trote, a carroça, seus braços. Quanto o perdi, depois que passou o medo, achei que tinha perdido tudo, porque achava que tudo era ele, o amor em mim. O caminho sou eu. Eu sou o cortejo, eu sou a experiência. O outro me sugere, ele me sugeriu a liberdade em mim, no primeiro volume da nossa história.

Eu que fiquei. Posso recordar outros tempos e relembrar o quanto me magoei, por não haver espelho para o meu silêncio, nem delicadeza para o meu amor. Que de tão insuspeito parecia secreto. Eu sabia.
Estou traçando o molde do meu vestido com essas palavras. Busco o caminho certo dos alfinetes, para que não se solte de mim o meu desejo, o meu sonho, a minha beleza, minhas cores escolhidas. Sou, por natureza, triste e colorida. Repinto, por aprender da vida, alegria e as cores das outras pessoas.



Quem me ensina de mim é bem vinda, bem vindo.




terça-feira, 27 de março de 2018

voltar



Voltar pra morar num cheiro.
Também morar numa música, letra, canção.
Voltar a viver no amor, abraço, beijo.

Nos últimos anos eu construí prédios e estrelas, mas desacreditei do amor.
Me enganei no conteúdo deturpado, imagem ludibriosa;
eu, que sempre acreditei no amor e em duendes,
me deixei enganar pelo jogo falso, achar que o amor era aparência, era a sedução belicosa de uma noite, era caça, busca sedenta e sôfrega de qualquer pessoa, um homem, um pau, era um amor.
E, bem, como eu não corro atrás de pau, não uso salto para me apresentar para consumo, não suborno minha vaidade para virar produto, achava que o amor não era mais pra mim.

Não é isso, pois não é assim.
Agora que voltei, quero olhar e ser vista.
O amor se atrai, o amor me atrai.
O mal que me foi feito, caiu a última pétala, acordei sabendo de volta o que é amor.

sábado, 24 de março de 2018


você foi embora
eu fiquei
ainda bem
podia ter sido a contrária
ou eu podia ter deixado de te amar
e aí seria só sofrer
amar me dá resiliência,
assumo morrer depois de viver
depois de amar

podia ter evitado o risco, e assim,
nunca seríamos tudo que fomos,
o bom
e o ruim!
escolhi conhecer algo mais de mim,
velha do tempo de ser jovem,
ingênua que fazia tanta diferença.
aprendi pernas, pelos, adentrei gozos.
e, sabendo mais, mais quis
às vezes erguida, às vezes rastejando,
voltei pra mim.

nunca mais te vejo,
e ainda assim,
abraço esse chão que escolhi ficar e penso em ti.
ou lembre
ou só te ame.

sexta-feira, 23 de março de 2018

sim, eu


Exercício de olhar.
Agora.
Olhar a chuva, respirar com ela
Ouvir a água, imaginar o chão.
Fluxos se alternam, como a mobília céu acima, que daqui só se ouve o arrastar.

Meu presente sou eu.
Habito minha rede, e meu corpo.
Casa que pede chapéu, proteção, mas também palpita nudez
janela sem cortina
peitos, pernas

Exercício de se tocar
se sentir, se aprofundar, se conhecer, se ser.
Re-construir sexualidades
meu corpo no meu corpo
eu e eu

domingo, 11 de março de 2018

(estagnação)


(pedra do Matutu)


Limbo é um substantivo masculino com origem no latim limbus e que significa margem, beira, borda, orla.
No âmbito da astronomia, limbo é a parte exterior de um corpo celeste, cuja margem é visível, como por exemplo: limbo do Sol ou da Lua. Na botânica, o limbo é a parte alargada de uma folha ou do segmento do cálice.
Em sentido figurado, limbo significa um lugar onde são deixadas coisas sem valor e que são esquecidas.

Eu
Faltou-me eixo, perceber a importância de um leme. Precisava estudar, não estudei. Precisava escrever, com dedicação, não me dediquei. Dos 20 aos 30, me debati num emprego que me permitia sobrevivência, e criei filha. Me perdi no meu umbigo, limpando também o umbigo dela. Eu tinha tempo que sobrava, mas estava presa na lamentação do que faltava, do que eu gastava para sobreviver. Era ser eu, ou ser o que se espera da mulher socialmente. Guardava em baú trancado quem eu era, até esquecendo; e desempenhava - mal, eu penso - a protótipa. Isso me consumia tal energia que penso ter sido por isso que eu não enxergava as outras possibilidades. Não estudei. Pouco importa talento, inspiração, sem dedicação.
Dos 30 aos 40 eu sufocava mais. E criava filho, e filha. Nunca tive filhas para me ocupar ou beneficiar, atendi a chamados. Não eram concebidas como véu, mas como cortinas abertas. Nessa década o símbolo mais forte da prisão pessoal era o casamento; eu me tratava - e consumia parte grande da minha energia - da solidão e estagnação a dois.
Foram nessas duas décadas que tive reprimida (por mim!), enrijecida, compactada, minha ligação com as letras, do estudo à escrita, da escrita ao estudo.


(olhar da Nathália Miranda - @nathaliamirandafotografiarte)

quinta-feira, 1 de março de 2018

Amor fisiológica Amor



O amor desajusta pupilas
Acelera coração
Saltita pernas
Esquenta as coxas
Inunda a buceta

Cozinho com esses temperos pelo corpo
.. e olha que ainda nem te toquei

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

pois..


...
mas também nem sei pra que essa agonia, fixação.
não sou de precisar, mas de querer.
é o precisar que faz urgência,
o querer é o que acontece.

...
se eu soubesse, te desenhava.

...
o amor agradece quem sabe agradecer ao amor.
mantenha-se (conectada) e honre o que te faz estar aqui.

agradeça, mais que às pessoas, ao amor.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

diluição



ler poesia e encher a cara
de água
pra curar dor de amor perdido
e da falta que faz

água cura mais que homeopatia
mais que outro amor
água também pra deixar sair
chorar

já do Tempo não sei
nem fatia nem o bolo todo



terça-feira, 9 de janeiro de 2018

49


Aos 49.
ando, de novo, procurando me entender.
Isso é todo dia, todo dia, todo dia.. debates internos que às vezes escapolem em uma ou outra frase, que nem sempre tenho paciência ou espaço pra desenvolver.
A história da pessoa velha.
Precisamente, da mulher velha.
Envelhecer como um defeito, uma piada.
Vou aprendendo mais coisas sobre mim à medida que o tempo me acompanha, estou décadas mais em paz com meu corpo, meus vícios, meus gostos.
Mas tenho que me preparar para as chacotas, para o “elogio” de que não aparento a idade que tenho, para a invisibilização que é ser velha nessa sociedade.

Não gosto que me chamem de 'tia' e não pelo meu nome. Acho que perco a minha identidade, e para a outra, o outro, passo a ser uma autoridade, coisa que não tenho interesse em ser. Prefiro ouvir meu nome na tua voz, na tua boca, prefiro que questione o que falo, que brinque comigo, que a gente estabeleça um diálogo.
“Você não quer é parecer velha”. Tô nem aí pra isso.

A barriga exposta num biquini alto chamou a atenção do meu irmão, mais novo que eu, e igualmente barrigudo (apesar de sem histórico de 3 gestações).
Ele fez piada.
Naturalizar o corpo de uma mulher é o que me instiga, além de usar o biquini que eu escolhi!

Meu sobrinho dois anos atrás brincou que eu era mais cabeluda que ele. Ele tem uma barba bonita, muitos pelos nas pernas, nem de longe eu tenho no corpo tantos cabelos quanto ele.
Mas eu não me depilo, e, para observar isso, a boa e velha piada.
Naturalizar o corpo de uma mulher é o que me instiga, além de curtir meus pelos!

Caminho meu caminho.
Não é na contramão, nem na dianteira, é o caminho que me parece compatível com quem sou, com meu cheiro, minha roupa, meu formato e meu gozo.
Um caminho de ondas, de águas, mas que também é pisado com inteireza, pra que o chão sinta e perceba que eu faço parte dele.

Sou do amor, mas não preciso explicar pra ninguém. Eu sei.