Me emociono quando leio que sou exemplo de algo ou alguém (tudo bem, já caiu a norma do "não começar a frase com sei-lá-o-que do tipo 'me'"?!.. isso porque às vezes é realmente preciso, e eu fico cheia de remorso por ter violado alguma norma cul(r)ta).
O ego então comanda a cearense e ela não quer nem saber se há algum dado real nessa admiração, ela só quer ser admirada!
Mas aí, duas lágrimas depois, sou humildemente trazida de volta ao meu contexto: mãe de dois filhos, fucnionária pública, artista sem pano de fundo, amiga silenciosa, uma necessitada de amor que nem mesmo sabe pedir ou dizer o que sente. Ah, poeta sem exercício, uma sedentária das letras.
Gostaria mesmo de uma compilação de toda a minha obra de vida até agora para que eu pudesse apreciar o conjunto e só assim me servisse de exemplo! Não há. Viver é esse espelho sem retorno, eu já disse e realmente penso que preciso do olhar do outro pra me fazer real. De perto, sentada à meda de um bar comigo mesma, sou interessante, formidável, indomável (isso na proporção dos chopps descidos), mas daí até o outro - ou outra - tomar contato com isso, não há tanta bebida nesse mundo pra encurtar essa distância.
Quando alguém me parece interessante, quando me encanto, quero conhecer, detalhar, tocar de perto, sentir o aroma, o gosto das ideias, o comprimento da roupa, os segredos mais bobos, a cor preferida para os detalhes. Aparentemente, pra esse movimento intenso de quereres, eu viro o rosto pro outro lado. Não adianta me bater, já virei! E chamo o fato do outro não descascar a verdade da mentira que finjo de desperdício.
Recentemente descobri que a verdade é outra coisa. Fiquei tão surpresa quanto feliz! Porque as minhas verdades sempre me prejudicam, me atacam com ferocidade, me condenam a cada bom autojulgamento. Então, perceber que, das conclusões autodestrutivas que tiro, nem tudo é o que parece, me deixou exultante e esperançosa: há um mundo melhor e possível para mim! Eu toda feliz por dentro, e estupidamente indiferente naquela mesa.
Tudo bem, no outro dia voltei crua pro mundo ral e me arrasei no retorno.. decididamente, preciso aprender a dizer tudo que sinto.
Voltando ao 'ser exemplo', sorry, não sou. Aceito a possibilidade de ser 'inspiração', é mais leve, menos perfeitinho.. e mais poético!