quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Desconcertando


O medo é o padrão.
Descascar batatas, descascar feridas
Expor
Mostrar
Não há poesia bonita se não falar de amor
Medo e culpa não são tronos para mim, pois com eles não se faz poesia
E eu sou feita dela
Ainda que feia – e barriguda
Que sem rima, que a vida toda com poucos riscos, exceto os imaginários – viver é um desses

Mas agora decreto, delibero, desejo muito e por isso consigo
Que não seguirei no árido até o fim
Que não posso negar minha natureza encoberta de musgo e covardia até o fim
Que vou mudar, mudar de volta pra mim
Voltar pra onde nunca morei, mas sempre soube o caminho
Um fio imaginário me deixava lá, uma rede esquisita de realidade me mandava pra longe
Sucumbi
Fingi, seguindo o vento – disfarçado, o covarde, de amor – que era normal

E hoje perco constantemente a coragem para renunciar
Anunciar que não sou
Que sou mais bagunça.

Voltar pra onde nunca se esteve é o meu desafio
Eu morro de medo dele, até mesmo quando tenho a certeza de que este é o meu lugar – como agora!
Devo anunciar que devo partir de volta,
Por mais que eu não saiba o caminho de olhos abertos
Estou voltando para onde nunca estive, pois lá eu sei que é o meu lugar
Talvez o mais difícil seja confiar no que nunca foi praticado
Na minha arte, que é, acima de tudo, estar no mundo
A minha verdade são os balões coloridos de UP!

Frente a frente num espelho cuja minha segunda face é Talula,
Devo olhar pra mim mesma e saber concluir a obra,
um amor que não é mais amor, desfeito
Ter a coragem de, tremendo de medo, seguir

Quem sabe o jogo é entender – e me perdoar – que passei 40 anos pra aprender a disfarçar, maquiar e ludibriar a minha essência
Que seria tão mais dócil e gentil comigo mesma simplesmente ser o que sou,seguir instintos, intuições, as letras que vieram desde cedo
Desaprender o que fiz nesse tempo todo,
pra voltar a ser eu mesma.
É tolo, muito tolo ser assim. E, ainda assim, é como sou. É quase mediar a troca entre um mundo real, neste Planeta, e um mundo imaginário, em outra estrela.
Aprendi, durante todos esses anos, a encobrir com capa de normalidade tudo que era eu: surgiram o casamento, o emprego, as regras, os conceitos.
Desmascarar esse disfarce é o de hoje.
Voltar pra mim
pra onde tão pouco estive esse tempo todo
é um sorriso no rosto,

um sorriso desses que eu quero em mim.

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