terça-feira, 15 de janeiro de 2013

livros e outras chantagens


presta atenção, silvana, que o amor não é acadêmico
e que os quadrinhos que enfeitavam teu dia no século passado seguiram papel adentro, com suas próprias estórias

presta atenção, também, silvana, que amar não é profissão
não é título para desempate
não é sustento nem subvenção

e, por fim, e no começo do dia, espie e entenda que não é possível agradar ao mesmo tempo nem meia dúzia de pessoas das mais queridas.. que ouvir queixas, acusações absurdas e lamúrias descompensadas não te deve apagar os trilhos por onde ias seguir sorridente e tola

a ti pertence tua vida e teu coração!




segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

cine ao domingo





Mudar o lugar dos móveis.
Mudar a ordem das coisas.
Parar de dar ordem às pessoas.
Mudar o patamar, o conteúdo, o padrão.
Mudar a estrutura do pensamento. Verter água na rigidez do movimento. E amolecer corações para depois amarem.

- Devora-me mordiscando com prazer cada pedaço doce.
- Mastigo sôfrega cada fio teu que consigo admitir.

Do amor, sei que engole aos pedaços e não sobeja o prato. O amor elabora a fome; e espera a satisfação da ânsia. Espera o seu momento de engolir.
O amor me trouxe aqui e por amor não sei para onde vou depois.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

casa que não se abandona


(Para Thiago L.)

Eu, que não presto.
Sou feitinha assim da beleza das minhas contradições.
Uma tralha de inutilidades, pedaços inservíveis, restos de músicas, mulher sem razão. Escuto o meu homem-menino e sorrio.

Depois sou refugo de saudade, riscos insubordinados pelo corpo, mentiras exaladas pelo suor. Sou de verdade, mas minto bem!
De ser jarro usadinho no meio da mesinha auxiliar, prefiro. Sou eu. Lasquinha
tirada na hora da limpeza, restos do tempo colados na entranha. Poeira, como chamam. Entre adornar e utilidade, o de antes. Sem ter função, enfeito. Sem ter beleza, divirto. E quando resolvo chorar, sorrio. Brinco com a luz, porque já senti a memória das minhas sombras no peito, algumas vezes.

Pois se não presto pra nada - como me elogias - estou feliz por você me captar. me viu como eu quero ser vista! Esse é o nada que me interessa, aquele que une meu corpo ao seu. Recheio meu travesseiro antes de deitar, minha cama em tua presença, todos os meus retalhos ali desalinhados. Na minha desordem, suspiro, respiro. Alfazema, blusa rasgada, camomila, papeis espalhados, amor, você.

domingo, 6 de janeiro de 2013

achando-se em passarinho

o meu emaranhado é só meu, é comigo mesmo. dois corações verdes uma linha tênue. quando eu enredo outros na minha confusão, fica tudo mais confuso, difícil de desenlinhar. e os outros não têm função vital no enlinhamento - a linha já era tênue, os corações já eram verdes. tirando os outros colares, desvencilhando-os dos meus nós, é mais justo e mais fácil. fica só eu, e, com paciência, vou me desconstruindo confusa.

e me trazendo de volta possível, desemaranhada dos outros, possível em mim.


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

cura

"Digerir. Processar. Não responsabilizar o outro. Resolver-se. Bastar-se. Independer-se. Para ser livre, saber ser só.

Talvez quando eu for outra saberei ser do jeito que acho mais gostoso ser. Por enquanto, nada tanto assim. Ainda algo corrói, ainda quero largar por incômodo. Ainda dispenso o confronto, mas não durmo feliz. Estômago em conflito com a paz.
Mas o outro não será responsável pelo meu sono nem pelo meu prazer. Quero e por isso construo um mundo interno fluindo com as minhas próprias energias. Dona, só de mim. Posse de ninguém. Meu juízo e minha esperança.

Quero a marola da minha própria onda. Cada dia que passa me aproximo mais por desejo do meu silêncio. Cada reflexão me faz almejar a minha paz. Saber que o outro não é meu nem nunca será, pois cada um só pode ser verdadeiramente de si. O resto é mentira. Disfarce ou desespero de quem não sabe ser só. Eu aprendo. Cercada de amigos para aprender o momento de ser só. Na cama com um homem que amo para sentir que o único pertencimento é de si para si. O sexo na passagem, o amor como símbolo e concretude, mas minha lição é implementar cada vez mais profundamente, com simplicidade e alegria, o que em mim sempre foi tão sugestivo e agradável: ser só.
Não tenho ninguém que não seja eu própria. Não falta ninguém porque eu já sou. Ao superar os padrões inventados do egoísmo, da frieza, da insensibilidade, eis o que sou: eu mesma. Não quero pertencer a mais ninguém, nem que ninguém me pertença almejo. Até lá, vivo etapas necessárias para implementar esse conhecimento tão meu. Tenho paciência, curto esses estágios primários, tranquila pois já estou no caminho. Na trilha da minha essência.

Despeço-me do outro, em desapego. Pelo que sei sem lições, sei por já ter trazido. Cheguei há quase 44 anos e trazia essa simples muda na bagagem. O outro vai embora em sua própria trajetória. O outro é de si, eu sou de mim. O outro dá o que ele precisa dar, não o que eu preciso receber. O que eu preciso, sairá de mim. Em goles de água, em silêncio, me balançando na rede. Cada um me ensina um fio de pêlo do que sou. Saber-me é a minha aprendizagem com as outras pessoas. Desapegar-me é um passo do meu caminho. Uma volta da minha espiral. Células minhas despertarão para minha subsistência. Amando, saberei despedir-me. Não de uma ou outra pessoa, mas da necessidade tardia de ser de alguém, de ter alguém para ser meu."


sábado, 17 de novembro de 2012

o corte

se eu perdesse a mãe todo dia,
seria como hoje
um todo a reinventar
parte desconhecida subindo rápido da água para respirar
e novamente me afogar

quando isso acontece
- desde 2007 que preciso saber -
volto eu pro embrião, lugar de mãe
encolho, recosto o que sou no coração da terra
soluço
suspiro
tento acomodar a dor

posso ser qualquer uma,
coisa ou mulher
pedra ou prazer
mas saber é outra coisa

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

sobre o mar

queria dormir
não para descansar,
mas para achar outro mundo
reparar o desconhecido que habitava em si

acordava duma madrugada de tarde
e sabia o que havia lá: liberdade!
do outro lado, de cá, já eram movimentos desconhecidos,
voltaram pra caixa do esquecimento-nosso-de-cada-sonho

e ela optara por não anotar
ou buscar a chancela terapêutica
guardou para o nunca e nem para si um segredo

de volta,
a casa com barulhos
sem respiração ofegante
sem teto
com brechas
esperas
e paredes que desapareciam ao apagar a luz

memória que se apaga
vela de mim mesma
eu,
fogo instável e em sumiço
esperando quem saiba amar