quarta-feira, 1 de agosto de 2012

passagem

Percurso de pensar no amor.

No verso da lista de supermercado, outras palavras, umas lembranças, certo lugar do corpo
Coração rabiscado entre laranja e ração do gato raul

E eu, rabiscando qualquer lugar qualquer pensamento, vermelho, amarelo, riso, pouco, coragem, minha guarda, meu pedaço..
Do meu porão, depósito dos guardados, sobem eles & elas.. de saudade a esquecimento, chegam como uma festa, ou um velório

Mas se a velocidade pediu sossego, sou em quem fico..
Depois, no sumo, na verdade do minuto, no vento do amor
Deito e delimito no chão o pouco da extensão que é o corpo de mim
Imaginária, a linha é leve e quer sair, quer ser mais do que sou só eu
Pego de volta, dou-lhe laço para que seja sorriso
Não sou muito, mas suficiência (paciência..)

Com o dente que resta, corto a ponta pra não deixar rastro
Para que não espalhem-se gotas por onde não queiras
mas que é certo aroma, rastro e esperança

Não finda o percurso,
não deixo de pensar,
não acaba o amor.

..Carlos Drummond de Andrade






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