sábado, 30 de setembro de 2017

pele



A cidade muda. Nós também. No lugar onde tomamos nossa primeira taça de vinho hoje se compra hamburger e milk shakes. O amor rejuvenesce. Lembro agora que foi lá que ele ajeitou os fios da minha sobrancelha, no meio da conversa, eu falando sei-lá-o-quê. O assunto que começava a me encantar não dizia palavra, éramos nós dois a história boa, as primeiras frases do conto, rima da canção, poesia do toque.

A cidade modifica seus cantos, nós os transformamos em memória. Passo pelo letreiro americano colorido e é difícil o dia que não desça em mim um detalhe, uma lembrança, um motivo. A sobrancelha é o mais querido, gesto de quem vai cuidar. Vou a quilômetros inventando as palavras que vistam a história, que contem pra mim o que foi aquilo que até hoje faz a barriga tremer e congelar quando desvio olho da estrada e vejo nós dois lá dentro, anos atrás.

Não posso mudar todos os roteiros dos meus dias, talvez olhar a cidade que muda seja uma das marcas que forme o painel desse Tempo. Pintura de mulher que anda na busca do próprio passo, do seu desejo, sua estrada. Como aquele café-hoje-lanchonete, outas ruas, prédios e quartos personalizam o que em mim ficou desenhado como amor. Sou mais caminho quando sei amar.

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