quarta-feira, 8 de agosto de 2012
em mim, minha consistência, meu lodo, meu sólido
pedra também tem saudade
do tempo que era onda,
do mundo onde era sal.
pedra tem coração, ama.
quando vira homem, pedro. e aí esquece momentaneamente seus superpoderes. estranha escolha.
pedra no lugar de fora dela
com sua sabedoria, esperando.
a gente, gente, se ocupando de não perceber, de panos para o corpo, de livros para ler.
pedra esperando que a gente saiba o que ela já.
pedra gosta de carinho, como gente também.
mania de atirar a primeira, não precisa.
pega e guarda na casa, no jardim, no bolso. ou deixa solta, e com o olhar do afeto.
fico pensando na consciência da pedra. acredito! se pedro tem, porque pedra não?!
entendo pela pele e sua memória, outro conhecimento. aceito-me. sinto.
fico eu, sonhando pedra, lembrando. fica pedra, estática na aparência e nunca no mesmo lugar. movimento perspicaz de manter a imobilidade e, entrelinhas/entreterras, agitar-se.
em mim, minha consistência, meu lodo, meu sólido.
pedra pra dois, achada por quem ama
há dias que o amor me beija e eu sinto, bem de manhã, como um café quentinho
pedra pra dois, trazida por quem ama..
vou ao espelho, pego.. sinto o amor, de dois, de três.. o amor do mundo na pedra de mim.
pedra pra dois, dada pros dois, por quem ama..
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
passagem
Percurso de pensar no amor.
No verso da lista de supermercado, outras palavras, umas lembranças, certo lugar do corpo
Coração rabiscado entre laranja e ração do gato raul
E eu, rabiscando qualquer lugar qualquer pensamento, vermelho, amarelo, riso, pouco, coragem, minha guarda, meu pedaço..
Do meu porão, depósito dos guardados, sobem eles & elas.. de saudade a esquecimento, chegam como uma festa, ou um velório
Mas se a velocidade pediu sossego, sou em quem fico..
Depois, no sumo, na verdade do minuto, no vento do amor
Deito e delimito no chão o pouco da extensão que é o corpo de mim
Imaginária, a linha é leve e quer sair, quer ser mais do que sou só eu
Pego de volta, dou-lhe laço para que seja sorriso
Não sou muito, mas suficiência (paciência..)
Com o dente que resta, corto a ponta pra não deixar rastro
Para que não espalhem-se gotas por onde não queiras
mas que é certo aroma, rastro e esperança
Não finda o percurso,
não deixo de pensar,
não acaba o amor.
..Carlos Drummond de Andrade
No verso da lista de supermercado, outras palavras, umas lembranças, certo lugar do corpo
Coração rabiscado entre laranja e ração do gato raul
E eu, rabiscando qualquer lugar qualquer pensamento, vermelho, amarelo, riso, pouco, coragem, minha guarda, meu pedaço..
Do meu porão, depósito dos guardados, sobem eles & elas.. de saudade a esquecimento, chegam como uma festa, ou um velório
Mas se a velocidade pediu sossego, sou em quem fico..
Depois, no sumo, na verdade do minuto, no vento do amor
Deito e delimito no chão o pouco da extensão que é o corpo de mim
Imaginária, a linha é leve e quer sair, quer ser mais do que sou só eu
Pego de volta, dou-lhe laço para que seja sorriso
Não sou muito, mas suficiência (paciência..)
Com o dente que resta, corto a ponta pra não deixar rastro
Para que não espalhem-se gotas por onde não queiras
mas que é certo aroma, rastro e esperança
Não finda o percurso,
não deixo de pensar,
não acaba o amor.
..Carlos Drummond de Andrade
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