terça-feira, 27 de março de 2018
voltar
Voltar pra morar num cheiro.
Também morar numa música, letra, canção.
Voltar a viver no amor, abraço, beijo.
Nos últimos anos eu construí prédios e estrelas, mas desacreditei do amor.
Me enganei no conteúdo deturpado, imagem ludibriosa;
eu, que sempre acreditei no amor e em duendes,
me deixei enganar pelo jogo falso, achar que o amor era aparência, era a sedução belicosa de uma noite, era caça, busca sedenta e sôfrega de qualquer pessoa, um homem, um pau, era um amor.
E, bem, como eu não corro atrás de pau, não uso salto para me apresentar para consumo, não suborno minha vaidade para virar produto, achava que o amor não era mais pra mim.
Não é isso, pois não é assim.
Agora que voltei, quero olhar e ser vista.
O amor se atrai, o amor me atrai.
O mal que me foi feito, caiu a última pétala, acordei sabendo de volta o que é amor.
sábado, 24 de março de 2018
só
você foi embora
eu fiquei
ainda bem
podia ter sido a contrária
ou eu podia ter deixado de te amar
e aí seria só sofrer
amar me dá resiliência,
assumo morrer depois de viver
depois de amar
podia ter evitado o risco, e assim,
nunca seríamos tudo que fomos,
o bom
e o ruim!
escolhi conhecer algo mais de mim,
velha do tempo de ser jovem,
ingênua que fazia tanta diferença.
aprendi pernas, pelos, adentrei gozos.
e, sabendo mais, mais quis
às vezes erguida, às vezes rastejando,
voltei pra mim.
nunca mais te vejo,
e ainda assim,
abraço esse chão que escolhi ficar e penso em ti.
ou lembre
ou só te ame.
sexta-feira, 23 de março de 2018
sim, eu
Exercício de olhar.
Agora.
Olhar a chuva, respirar com ela
Ouvir a água, imaginar o chão.
Fluxos se alternam, como a mobília céu acima, que daqui só se ouve o arrastar.
Meu presente sou eu.
Habito minha rede, e meu corpo.
Casa que pede chapéu, proteção, mas também palpita nudez
janela sem cortina
peitos, pernas
Exercício de se tocar
se sentir, se aprofundar, se conhecer, se ser.
Re-construir sexualidades
meu corpo no meu corpo
eu e eu
domingo, 11 de março de 2018
(estagnação)
(pedra do Matutu)
Limbo é um substantivo masculino com origem no latim limbus e que significa margem, beira, borda, orla.
No âmbito da astronomia, limbo é a parte exterior de um corpo celeste, cuja margem é visível, como por exemplo: limbo do Sol ou da Lua. Na botânica, o limbo é a parte alargada de uma folha ou do segmento do cálice.
Em sentido figurado, limbo significa um lugar onde são deixadas coisas sem valor e que são esquecidas.
Eu
Faltou-me eixo, perceber a importância de um leme. Precisava estudar, não estudei. Precisava escrever, com dedicação, não me dediquei. Dos 20 aos 30, me debati num emprego que me permitia sobrevivência, e criei filha. Me perdi no meu umbigo, limpando também o umbigo dela. Eu tinha tempo que sobrava, mas estava presa na lamentação do que faltava, do que eu gastava para sobreviver. Era ser eu, ou ser o que se espera da mulher socialmente. Guardava em baú trancado quem eu era, até esquecendo; e desempenhava - mal, eu penso - a protótipa. Isso me consumia tal energia que penso ter sido por isso que eu não enxergava as outras possibilidades. Não estudei. Pouco importa talento, inspiração, sem dedicação.
Dos 30 aos 40 eu sufocava mais. E criava filho, e filha. Nunca tive filhas para me ocupar ou beneficiar, atendi a chamados. Não eram concebidas como véu, mas como cortinas abertas. Nessa década o símbolo mais forte da prisão pessoal era o casamento; eu me tratava - e consumia parte grande da minha energia - da solidão e estagnação a dois.
Foram nessas duas décadas que tive reprimida (por mim!), enrijecida, compactada, minha ligação com as letras, do estudo à escrita, da escrita ao estudo.
(olhar da Nathália Miranda - @nathaliamirandafotografiarte)
quinta-feira, 1 de março de 2018
Amor fisiológica Amor
O amor desajusta pupilas
Acelera coração
Saltita pernas
Esquenta as coxas
Inunda a buceta
Cozinho com esses temperos pelo corpo
.. e olha que ainda nem te toquei
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