terça-feira, 31 de março de 2015

impermanência


O cartão de apresentação era a poesia. Comigo sempre funciona.


Da minha parte, a indiferença defensiva que carrego na bolsa, e, não estando com uma, na alma.
Encontros nem sempre me favorecem, sou capaz de atear fogo em fuga
Quando só queria um beijo.



Todos caímos, para aprender a andar.
Já para amar, recomendo
poesia
paciência
e sorte

quinta-feira, 26 de março de 2015

João




Foi num dia.
Depois que já tinha chovido muito na sua vida
Dias e dias e dias de céu fechado,
tempo de morte, nuvens cinzas, vento ruidoso, muita água.
Ele sofria enquanto os dias se acabrunhavam.




E então, um dia, amanheceu.
Ele, ingenuamente, ficou em paz


(licença poética para querer o bem)

sábado, 21 de março de 2015

de sombra e luz

Quando a saudade muda de paradeiro

Vou aí te encontrar
Ou num sonho, aconchego em qualquer outro lugar

Mudar de roupa
trocar o lado da rua - mudar de rua!
Sorrio, mesmo sem te imaginar passar

Se antes olhava pra trás, procurando alegria de outrora,
hoje meu mundo se expande adiante
e os paralelos dos lados, onde a eternidade revive

o sonho, o desejo, a aventura.. Sou multidimensional, e o Amor me acompanha!


terça-feira, 17 de março de 2015

o sono das dores

e aí,
quando a gente percebe,
já é outra coisa

gratidão às Águas pelo movimento
transmutando amor,
refinando tempo.



quinta-feira, 12 de março de 2015

luas

Lua com jeitão de pisca-alerta na minha janela

Aparece entre as folhas da árvore, que balançam, malemolentes como um amigo meu em dia de festa da Rainha.
Depois some, no meio do gingado.

Dizem que tá amarelinha, não vi direito porque só tinha na hora que vi a cor do meu sorriso, contentamento.
Mas acredito no apuro de quem fala da cor da lua, bate direto no meu coração.

Coração tá consertando, escrevo e desenho que ele me cuida, e que eu cuido dele, quando me amo.

Sei que tá minguando – e como ela é potente e provocadora das verdades selvagens quando tá indo, sangro com ela e me sinto assim.
A lua me ensina o que como mulher já sei.

Minha casa é um corpo por onde a lua passeia. Ela atravessa os ares, as vigas, os elementos.
Parte por dentro da minha vida.
Então daqui a pouco, chegando já o dia vermelho de Iansã, vou lá do outro lado, pra ela.
Meu silêncio, que era de curar, hoje tem a marca daquela que se modifica em ciclos.
Sei que não sou uma só, não sou só pra dor, nem só pro esquecimento.

Do outro lado, lado de mim, há mais tempo, mais árvores, e mais caminho.
As águas também querem assim.

Essa poesia que é o Tempo. Num instante.
Pela fotografia, ainda há.
Hoje, impossível.
Isento de queixumes, ele não cria os nossos erros, nem até onde conseguimos amar.
A realidade se mudou num instante, eu sem você.
Uma mudança banal, e já é diferente o mundo. Um dado de realidade, um atraso do ônibus, um voo cancelado, um bebê que nasce por suas próprias ganas, um homem que morre, um amor que se perde.

A velocidade é desnecessária.
A lua sabe o tempo, a árvore também.
Janelas abertas, deixa que não tem mais espera, nem perigo.
Acalma a voz e o coração, tá tudo pronto pra ser.


segunda-feira, 2 de março de 2015

Ciranda

(com Ana e Lucas)

São 46 anos que não se contam como degraus

É mais uma escada rolante, o tempo enrolando o tempo, o tempo comendo os degraus e devolvendo outros, o amor engolindo aos pedaços e urgindo que outra se faça, outra apareça

Não lembro o dia certo que caí. Também não foi uma queda só. Mas olho agora e sei – só de olhar – que não estou mais lá. A presença dos meus passos, indo e vindo pelo Rio Vermelho, qualquer rio, qualquer cor, sou eu: presente.

Uma presença feminina, afirmativa, altiva, doce, descuidada no parecer, ligada no ser. Penso em parecer cada vez menos, porque aí afasto quem liga para as a-parências, quem se importa com a roupa, o pelo, a maquiagem, o preço. Fui ali em outro lugar, fui fazer outra coisa, entre outras nada

Choveu muito e tanta água me ajudou a ver de novo meu corpo. Não aquele que a gente vê quando passa na rua, na praia, na ofensa, na vitrine. O meu corpo, aquele que me levanta da cama, me dança, me banha, me veste, me contempla no espelho. Meu corpo potente, viril, vivo!

Visto nua uma das roupas, vou pra rua, que agora cheiro e rastreio o meu tempo e meu lugar. Pulo os degraus, esculhambo a escada; nem é de propósito, mas não dá pra ser diferente



domingo, 1 de março de 2015

salve-se



De tanto sentir as janelas abertas, foi embora
às vezes me queixo ao coração por não ter me levado junto

Mas sei que é besteira,
há certos lugares de se ir, como a morte, ou a loucura,
que cada uma que chegue por si,
a passos, asas ou fogo.


Então, foi.
Eu não, eu sou.