quinta-feira, 31 de julho de 2014

quinta-me


Durmo bem, acordo cedo.
Nos próximos 10 minutos decido se cochilo mais um pouco o preparo um café.
Às vezes sim, às vezes não.

Sigo na ladeira do bom dia e canto recomeços. Desde janeiro estou sempre recomeçando.

Vou pro trabalho e meu período mais criativo do dia é enclausurado numa sala de ar condicionado e paletós.
Clausura e criação não combinam em mim. Às 10h estou finalizada e tenho a sensação, quando fujo para o banheiro quentinho, que o dia já acabou. E morreu de inanição.

Mando mensagens tentando voltar à vida.
Respiro e expiro gemidos fortes Pulo no banheiro Mastigo as carnes do meu braço Meu coração vazando em fuga

Volto. Recebo mensagens solidárias.
Prefiro amor. Não há preferências no serviço público, trabalho uniforme, assim se pretende a burocracia.

Penso na água. Na libertação pela água. Na energia que se transmite pela água e anoto no guardanapo abaixo do copo:
AMOR E GRATIDÃO

Penso e sinto que sou realmente grata. E o Amor, desse eu já sabia.

Tem chuva lá fora e chuva sempre me traz no coração a velha Nanã. Recebo-a. Sou grata.
Tenho pendências de todas as qualidades e quantidades inverossímeis pra quem me vê no mundo e não conhece o espelho que carrego na alma.

Cheguei em casa. Omiti alguns fatos. Chatos. Mais chatos.
Até que enfim tomo um banho nessa noite fria. Pensei em beber até me esquecer.
Mas marquei de conhecer uma aula nova. Que talvez me reconecte, e eu preciso demais me reconectar mais.

Não é diário, mas tem dias que coça tanto essa cicatrização que mordo os braços pros dedos não arrancarem a casca e começar tudo de novo, do momento em que o sangue diz o quanto dói estar exposta ao amor.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

para o tempo, desaprender.


Passa o tempo e eu reparo, quando paro, o quanto ainda tenho que desaprender.

Passo um tempo deitada no barco, à deriva, olhos fechados, sem querer o horizonte.
Vivendo como se não quisesse.
Resistindo na inércia.

Rearrumo sentimentos e uns há que ainda não encontrei caixinha adequada para deixá-los.
Estão dependurados, entre o coração e a memória.
Meu varal de amor roto.

Visito as verdades e enquanto subo a ladeira, reparo nas variedades, muitas delas são equívocos de interpretação, esqueço.
Noutro dia já estou descendo, e aí são as mentiras que me dão volta. Como são doces as mentiras que amamos.

Ontem descobri que há tempos a poesia corre solta lá em casa.
As paredes conversam em soneto; as portas, em melodia.
Na cozinha, magia e encantamento de quem tempera e prova a vida por prazer.
Nos quartos dormem os sonhos, transam os corpos, palavras na pele, no azulejo
e no chão, a dança.

O jardim é contente de passarinho e borboleta.
De verde, vermelho, azul.
De pitanga, jabuticaba, pimenta, cidreira.






Tem rede pra balançar sorriso e o choro que vem das dores.
Embalamos com carinho o que precisa ser vivido, nas modalidades olho no olho, abraço e papo reto.
Aceitamos outras interpretações, mas precisa ter coração no cartão de visitas.

Muito a desaprender.
Pra um dia ser leve, não mais ferir-me o que pensa e fala fora de mim.
Continuar amando quem for do meu desejo amar, e deitar ao tempo com naturalidade o que não é mais.

Naquele dia, não era o mundo que esquecia de mim, era a tristeza que não deixava de lembrar.
Hoje, deito no mesmo lugar e posso observar os múltiplos alheios.
Sentir me deixa apta para viver.
E quanto mais vivo, mais percebo o quanto mais há para
desaprender.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Foi um dia assim a partida. Pensei ter visto alguém morrer.


Da minha pele, às vezes sinto o amor se desprendendo.
Diferente dos dias que parece aquela poeira grudada por maresia e suor.

Da janela do quarto, calendário. Não tem números riscados, nem me conta o tempo com a pressa do trânsito.
Da beirada, do parapeito, da balaustrada, vivo no silêncio.
Até que seja, até quando a vontade de ouvir alguém sonhar voe até aqui.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

quando alguém deixa de existir

Tentei me convencer a apagar as pistas, as memórias palpáveis.
Rasgar os papeis, queimar fotografias, quebrar poemas.
Destruir objetos que não negassem o parentesco, a parceria desfeita.

Mas em mim brincam no mesmo jardim a lembrança, a saudade..
Teria que reinventar-me por outras trilhas
Pedras caem, mas pedras novas surgem pisando o caminho, mesmo que a esmo
Outros planos para o fogo de Sagitário